Um novo estudo realizado pela Stanford University School of Medicine, dos Estados Unidos, mostrou que o uso de ocitocina melhora as habilidades sociais de algumas crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Conhecida como "hormônio do amor", a ocitocina beneficiou mais aqueles com níveis baixos da substância, segundo a descoberta publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
– Os resultados sugerem que algumas crianças com autismo vão se beneficiar do tratamento com ocitocina e que os níveis do hormônio no sangue podem ser um sinal biológico que vai nos permitir prever se o paciente responderá ao máximo ou não – diz Karen Parker, professora da universidade e uma das autoras do estudo.
Leia mais:
"Não é uma tragédia, mas não é uma comédia", diz jornalista
Preconceito e desinformação: os inimigos que cercam o autismo
Como foi feito com base em uma amostra pequena, de 32 crianças, a pesquisadora sugere que o estudo seja replicado.
Antonio Hardan, autor do estudo, diz que, embora os efeitos da ocitocina sejam modestos, os resultados são animadores, pois, atualmente, não existe medicação para tratar qualquer uma das características centrais do autismo.
De acordo com Ricardo Halpern, professor Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), pesquisas com uso desse hormônio não são novidade. Segundo ele, desde 1998 são feitos testes com a substância:
– Desde então, 29 ensaios clínicos mostraram resultados controversos em relação ao uso da ocitocina para ser consolidado no tratamento dos sintomas do TDA. Muitas dessas pesquisas não apresentaram diferenças. As que apresentaram era associadas a técnicas comportamentais. É mais um estudo promissor em busca de uma ferramenta terapêutica para tratar os sintomas de um quadro clínico tão complexo como o TEA.
O estudo
O estudo incluiu 32 crianças com TDA que foram designadas aleatoriamente para receber um spray de ocitocina intranasal ou placebo duas vezes por dia ao longo de quatro semanas. Os níveis do hormônio foram medidos antes e depois desse período. O comportamento dos pesquisados foi avaliado por meio de um questionário padronizado respondido pelos pais.
Para a neurologista infantil e médica do ambulatório de TEA do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) Michele Becker, o destaque deste estudo é o fato de separar os grupos com mais e menos chance de responder a determinado tratamento:
– O estudo é muito interessante, pois sugere que podemos identificar quais crianças com TEA se beneficiarão do uso da ocitocina e testar a sua eficácia nesse subgrupo de pacientes. Apesar de a pesquisa ter uma amostra pequena, sugere que a ocitocina possa ser promissora no tratamento do déficit de interação social nos pacientes autistas com níveis baixos desse peptídeo. Teremos que aguardar mais estudos, com número maior de indivíduos para comprovar esses achados – avalia.
Como em várias pesquisas, até as crianças que receberam placebo tiveram alguma melhora. Entretanto, ela foi menos pronunciada em relação àquelas que utilizaram o hormônio. Os melhores resultados foram observados em crianças que apresentaram os níveis da substância em menor quantidade no sangue antes das doses placebo em relação àqueles que já tinham o hormônio em alta. Karen destaca que isso é comum em estudos de tratamentos psicológicos e psiquiátricos.
Entre as crianças que receberam ocitocina, obtiveram melhoras no comportamento social aquelas que estavam com o hormônio em baixa antes do tratamento.
– Esperamos que este seja um primeiro passo para identificar as características de pessoas com autismo que respondem a tratamentos específicos – disse Hardan.