Nosso povo já está um tanto acostumado a deparar com notícias impactantes, por vezes, assombrosas e, infelizmente, cada vez menos surpreendentes (tendo em vista que, embora nos cause ojeriza, logo passam a ser uma mera lembrança). Nesta semana tivemos um exemplo desse tipo de acontecimento, quando tomou conta das redes sociais a divulgação de fotos de duas escolas particulares do Rio Grande do Sul.
As mesmas solicitaram aos alunos do 3º ano (do Ensino Médio) que viessem "fantasiados" de profissões, que, segundo a visão deles, eram de pessoas que não deram certo na vida. Dentre essas profissões, estavam a de gari, faxineira, atendente de lanchonete, garçom, entre tantas outras. Quando chegou ao conhecimento do público, foi um alvoroço só. O preconceito é cada vez menos tolerável pela maioria das pessoas. Embora as instituições tenham se defendido, dizendo que jamais tiveram a intenção de discriminar qualquer trabalhador, foi assim que fizeram na prática.
As instituições de ensino são propagadoras de ideias e ideais. Não podemos ignorar esse fato (seria imprudência e irresponsabilidade). Antes de qualquer evento, qualquer depoimento, qualquer atividade, precisa-se parar e pensar mil vezes se não há possibilidade de uma compreensão inadequada por alguém, se não é ofensivo, se não denigre a imagem e a dignidade de outro ser.
E mais: se tem algo a acrescentar à sociedade, se fará seus estudantes refletirem, se proporcionará a oportunidade de evolução, seja a uma única pessoa, a um grupo ou a toda a comunidade escolar.
Escola não é apenas um local onde crianças e jovens ficam parte do dia, recebendo informações para passar no vestibular. Não é apenas o lugar onde eles ficam enquanto os pais estão trabalhando. Escola é mais. E se não está sendo mais do que isso, precisa mudar urgentemente. Escola precisa ser o lugar onde as pessoas são convidadas a pensar, onde se aprende a conviver, onde se entende o que é respeitar, onde se ensina que flexibilidade é uma qualidade muito importante. É inadmissível que os pais e as mães deixem seu bem mais precioso (os filhos) durante, pelo menos, 12 anos, dentro de um lugar de onde ele sairá preparado apenas para entrar em uma faculdade.
Pode parecer utópico, mas como já dizia Galeano, a utopia serve para que não paremos de caminhar. E, sinceramente, se não é por meio da educação que transformaremos esse mundo num lugar melhor, não sei mais de que forma poderá ser. Se tudo der errado, continuaremos a ter instituições de ensino agindo de forma equivocada quanto ao papel da educação na sociedade. Mas se tudo der certo (e é isso que nos interessa), logo veremos profissionais engajados verdadeiramente em um propósito muito maior do que uma avaliação. Veremos profissionais obstinados em formar seres humanos mais íntegros, empáticos e compassivos.