Para quem esperava um texto falando sobre a felicidade de ser mãe ou sobre as vicissitudes dessa tarefa linda e árdua, lamento decepcionar. Este será um texto para nós, mães (e para os pais), que todos os dias vivemos cheios de amor, medos, desafios, angústias, alegrias e questionamentos.
Você sabia que uma em cada cinco crianças apresenta problemas de estresse e saúde mental, como ansiedade e questões emocionais? E que 50% desses distúrbios aparecem antes dos 14 anos? E 75% antes dos 24 anos? Ou seja, infância e adolescência, cada vez mais, sendo fases de desenvolvimento em sua totalidade: capacidades aumentadas, tanto de saúde quanto de doença. Só que não podemos responsabilizar um ser em formação por questões tão subjetivas e viscerais. Às vezes, há fatores genéticos envolvidos mas, na maioria esmagadora dos casos, as questões decisivas para a instalação e manifestação de uma perturbação emocional são ambientais. É a falta do convívio, do interesse genuíno, do diálogo, da partilha de vivências e informações, da presença atenta, da escuta ativa. É a existência perturbadora daquela "presença ausente", que tantas vezes não ampara como deveria.
Falamos muito sobre as transformações sociais. Reclamamos do egoísmo, do trânsito, da violência, da corrupção, da falta de empatia. Porém, poucas são as vezes em que paramos para refletir sobre a nossa responsabilidade no caos em que vivemos.
A gente vem de uma geração que se debochava, competia, humilhava, puxava tapete, mentia, havia arrogância e todo o tipo de rebaixamento moral e tentativa de submissão. Aos poucos, fomos nos tornando o que somos hoje e fazendo da sociedade o que ela é (com suas evoluções, claro! Mas cheia de retrocessos também). E o pior é que muitos de nós atualmente ousamos ironizar sobre questões sérias como o bullying, por exemplo. Quantas vezes ouve-se a frase: "no nosso tempo, um tirava sarro do outro e estamos todos vivos, mas hoje isso se chama bullying".
Estamos vivos, mas às custas de quanto sofrimento! De quantos momentos cheios de sentimento de inadequação.De silêncios ensurdecedores, quando não sabíamos como tirar de dentro do peito aquela angústia frente a uma vida na qual parecíamos não caber.
O tempo passou e nos transformamos no que somos hoje: pais e mães cheios de vontade de acertar, mas muitas vezes sem saber falar e sem saber ouvir sobre sentimentos. Sem conseguir enxergar os filhos como eles realmente são ou legitimar suas ansiedades e dores.
Crianças e adolescentes se afligem, entristecem, inquietam-se. É muito importante que saibamos reconhecer a autenticidade desses sentimentos e estender a mão aos jovens. Até porque uma coisa é certa: se não fizermos isso, alguém fará por nós – e possivelmente não será o alguém mais indicado.