Vera Iaconelli fala sobre as dúvidas em relação às crianças pequenas e aborda como é assumir as funções de mãe e pai na atualidade, tema de sua palestra no ciclo Escola de Pais. Confira:
Ainda há uma noção de que é a mãe quem mais deve cuidar de uma criança?
Tento reforçar cada vez mais um reconhecimento de algo que já está aí, que é a participação do pai, a importância dessa questão, que muitas vezes é negligenciada por pais e mães. Nessa negligência, tanto se sobrecarrega as mães de incumbências e responsabilidades como também se negligencia a participação do pai em termos de importância, achando que a mãe é suficiente, que ela é tudo. Eu brinco que a gente tem uma mentalidade muito equivocada de pensar que um bom pai é quase uma mãe, um "pãe", usando a mãe como o modelo de todas as coisas e o pai como uma espécie de arremedo. Não é assim, até porque hoje em dia tem pais que assumem integralmente seus filhos, tem casais de homens, avôs, homens solteiros que cuidam de crianças.
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É correta a ideia de que as pessoas já nascem prontas para ser pai ou mãe?
O humano não sabe ser pai e mãe de uma forma instintiva, como os outros mamíferos. De um povo para outro, de uma época para outra, de um país para outro, as formas de cuidar dos filhos são diferentes. O grande problema hoje da questão dos cuidados com as crianças e da construção do papel de pai e de mãe é ainda uma fantasia de que isso é algo espontâneo e natural. Esse problema tem levado muitos casais e mulheres para o consultório.
Qual é a importância de casais que querem ter filhos manterem contato com outros pais?
Ler, conversar com outras pessoas é válido porque você estabelece uma relação dentro do seu tempo, e quanto mais você estiver atualizado, mas vai poder preparar os filhos para o tempo deles, que vai ser outro. É preciso saber o que está se passando, conversar com seus pares, porque nós somos animais sociais. Tudo isso dá subsídios para você inserir esse cara no mundo. Mas é preciso também dialogar com o que veio antes da gente, não dá para descartar os ensinamentos do passado.
Muitos pais se sentem despreparados para assumir essa função?
A gente nunca está preparada para a chegada de um filho. Talvez a melhor preparação seja você reconhecer que não dá para se preparar, estar aberto para o imprevisível, para o desconhecido, e não achar que, se você estudar um monte, pesquisar na internet, ler muito, você vai saber. É algo da ordem do amor, e não tem como se preparar para o amor.