Trabalhar a humanização e o acolhimento aos familiares de potenciais doadores é uma das grandes barreiras a ser transposta para melhorar os índices de transplantes no Brasil. Para discutir este e outros temas que envolvem a doação de órgãos, Porto Alegre sedia, até esta sexta-feira, o Encontro Nacional de Investigadores do Estudo Donors, projeto que busca otimizar os processos de doação.
Coordenado pelo Escritório de Projetos PROADI – SUS do Hospital Moinhos de Vento, em parceira com o Ministério da Saúde, o evento conta com a presença de profissionais de 70 instituições públicas e privadas, das Centrais Estaduais de Transplante e da Organização Nacional de Transplantes (ONT) da Espanha, país referência no assunto.
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Em coletiva de imprensa realizada pela manhã, a coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, Rosana Reis Nothen, explicou a iniciativa:
– O objetivo é enfrentar a recusa familiar e melhorar a manutenção de viabilização do potencial doador.
Ou seja, além de aprimorar a comunicação entre equipe hospitalar e familiares, ainda é preciso encarar desafios logísticos para transportar os órgãos e vencer as distâncias continentais do país.
Glauco Westphal, coordenador do projeto e médico intensivista, afirmou que o programa busca melhorar os processos em casos de morte encefálica – que é irreversível e acontece quando o cérebro deixa de funcionar, mas o restante dos órgãos segue trabalhando – e viabilizar mais transplantes.
– Percebemos a necessidade de um projeto para reduzir a perda de órgãos – disse.
Considerando os casos notificados de morte encefálica, hoje, o Brasil tem uma média de 45 potenciais doadores a cada milhão, número que precisa ser melhorado.
– Toda e qualquer suspeita de morte encefálica deve ser notificada na central de transplantes – defendeu Westphal.
Três pilares para ampliar os números
Referência mundial em transplantes de órgãos, a Espanha faz um grande trabalho de conscientização com a população. Lá, a enfermeira Carmen Segovia encabeça uma série de treinamentos que visam humanizar o tratamento dado aos familiares de potenciais doadores.
Foi ela quem expandiu o curso "Comunicación en Situaciónes Críticas", que tem como objetivo treinar as equipes de saúde para se comunicar de forma adequada com a família desses potenciais doadores.
Por sua vasta experiência, Carmen foi uma das convidadas para participar do encontro.
– A chave para vencer essas barreiras está nos profissionais. Temos bons hospitais, bons trabalhadores, mas tem que ter humanização – garantiu.
Segundo ela, a percepção que o familiar tem do atendimento hospitalar é fundamental para a decisão de doar ou não órgãos de um parente. Por isso, baseia seus conhecimentos em três grandes pilares: respeito, empatia e autenticidade.
– Eles não podem ser separados. Temos de ajudar as famílias e os profissionais da saúde – pontuou.