Uma criança que nasceu com apenas quatro dedos na mão direita foi submetida na semana passada, em Porto Alegre, a uma cirurgia pouco usual: teve o indicador transformado em polegar.
O procedimento, que envolve alterar estruturas ósseas, musculares e de tendões, além de deslocar o dedo para a nova posição, ocorreu no Hospital Moinhos de Vento e foi realizado pelo ortopedista e traumatologista Paulo Henrique Ruschel.
A paciente, que mora em Porto Alegre, é uma menina de dois anos, idade recomendada para a intervenção porque as estruturas da mão já estão crescidas, mas o cérebro ainda não desenvolveu todos os registros do polegar, o que o torna receptivo à alteração. Graças à cirurgia, a menina, mesmo com quatro dedos, terá grande parte das funções da mão preservadas, estando apta a atividades como escrever, por exemplo.
– Mudam-se várias estruturas para se manter a função de pinça. Sem ela, a mão perde 70% de sua função – afirmou Ruschel.
Entre as estruturas modificadas estavam ossos (uma vez que indicador tem quatro, enquanto o polegar conta com somente três), bem como cinco tendões. O indicador foi deslocado para ficar de frente para os demais dedos, reposicionamento fundamental para que seja possível segurar objetos.
Realizada no dia 21, a microcirurgia durou três horas. No dia seguinte, a paciente teve alta. Ela terá de ficar com a mão imobilizada por quatro semanas e, depois, fazer fisioterapia ao longo de três meses.
O procedimento, conhecido como policização, tem uma tradição longa. O relato mais antigo de uma intervenção desse gênero remonta a 1885. Apesar de antiga, é considerada uma das cirurgias de mão de execução mais difícil. Ruschel já havia realizado seis procedimentos semelhantes. Conforme João Ronaldo Krauzer, chefe do serviço de pediatria do Hospital Moinhos de Vento, o procedimento não é frequente na instituição porque a agenesia de polegar (a ausência do polegar) é uma condição genética rara.