A última das três etapas de testes da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan contra a dengue no Rio Grande do Sul, que começou em julho de 2016, teve, até o momento, 300 participantes. Um número muito menor do que os pesquisadores esperavam. A expectativa é de que, até setembro de 2017, mil moradores de Porto Alegre, entre 18 e 59 anos, recebam a vacina.
Porto Alegre é um dos 14 centros clínicos espalhados pelo país que está realizando o estudo da vacina em seres humanos. Essa é a ultima etapa de estudos antes de a vacina ser submetida à aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Leia mais:
Notificações de dengue caem pela metade no RS em relação a 2016
Vacina contra a dengue deve ser liberada no Brasil em 2019
Em todo o país, os testes envolvem crianças a partir dos dois anos. Apenas em Porto Alegre os testes são feitos apenas em adultos entre 18 a 59 anos, pois é uma cidade onde a população teve pouca exposição à doença. Isso faz com que a Capital tenha um papel fundamental no desenvolvimento e no entendimento da proteção da vacina.
– Nós somos o controle do estudo porque, no resto do Brasil, a maioria das pessoas já teve contato com o vírus da dengue, mesmo que não tenha tido doença sintomática. Então, no sangue de quem já teve contato com o vírus, existem anticorpos de memória, que podem ou não ser protetores contra o vírus. Em Porto alegre, a maioria das pessoas nunca foi exposta, portanto, os anticorpos que as pessoas daqui possuirão ao serem vacinadas serão apenas os induzidos pela vacina. E só assim podemos entender o quão protetores esses anticorpos são – afirma Cristina Beatriz Bonorino, professora titular de Imunologia da PUCRS e coinvestigadora principal dos testes com a imunização.
Em parceria desde 2008 com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH – sigla em inglês), que deu início às pesquisas da vacina contra a dengue, o Instituto Butantan é o responsável por trabalhar no desenvolvimento do produto até a etapa final de viabilização da produção em massa. Na fase atual da pesquisa clínica, a eficácia da vacina é colocada em teste.
Nessa etapa, a intenção é de que 17 mil voluntários pelo Brasil recebam uma dose da vacina e possibilitem a avaliação da eficácia e da segurança do produto. Dois terços dos participantes vão receber a vacina com o vírus enfraquecido – que ativa o sistema imunológico para combatê-lo em caso de uma infecção. O restante receberá uma dose com placebo, uma substância que não contém o vírus, mas, outras propriedades da vacina. O tempo para o término da fase de testes depende da circulação do vírus da dengue no país.
Para quem se preocupa com o risco de ser voluntário em um programa como esse, o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital São Lucas da PUCRS, Fabiano Ramos, um dos pesquisadores que lidera essa fase de testes, afirma que a vacina é composta de vírus vivo enfraquecido e, por isso, qualquer sintoma que possa ocorrer será leve e sem risco de doença grave. A alta taxa de proteção contra a doença já foi demonstrado em estudos prévios.
– A vacina já passou por duas fases de estudo e se mostrou bastante segura, sem nenhum evento adverso grave, acreditamos que, sendo testada agora, em uma população muito maior, essa segurança se comprovará – diz Ramos.
Os voluntários são fundamentais para que o estudo seja realizado e, assim, a vacina possa ser produzida e liberada o quanto antes para uso de toda a população.
– Temos de lembrar que, apesar da nossa cidade não sofrer ainda com um número elevado de casos anuais de dengue, essa doença é uma preocupação para a saúde pública em todo o país. Os voluntários são muito importantes, eles irão participar do desenvolvimento de uma vacina histórica, além de ter acompanhamento durante todo o período do estudo para avaliação da proteção vacinal ao longo de cinco anos – complementa o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital São Lucas.