O Hospital de Clínicas de Porto Alegre apresentou, na manhã desta terça-feira, um estudo que pode mudar as indicações de tratamento da hipertensão, uma das principais causas de morte no mundo e o principal fator de risco em doenças cardiovasculares.
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A pesquisa, batizada de Prever e coordenada pelos professores da Faculdade de Medicina da UFRGS Sandra e Flávio Fuchs, mostrou que cuidar da pressão quando ela ainda está em valores como 12 por 8 e menor do que 14 por 9, a chamada de pré-hipertensão, reduz drasticamente o risco de desenvolver a hipertensão – quando a pressão arterial é maior ou igual a 14 por 9.
O estudo também revelou a eficiência de dois diuréticos na luta contra o problema: a cloritalidona e a amilorida. Os medicamentos, quando combinados, apresentaram melhores resultados do que a losartana, oferecida atualmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Programa Farmácia Popular. Os diuréticos seriam, inclusive, mais baratos.
O Prever foi dividido em dois estudos independentes, o Prever 1 – Prevenção e o Prever 2 – Tratamento. No primeiro, foram analisados pré-hipertensos, entre 30 e 70 anos, sem doenças cardiovasculares. Dos 18 mil avaliados inicialmente, cerca de 1,4 mil foram selecionados e aceitaram mudar o estilo de vida, adotando hábitos mais saudáveis. Depois de três meses, 730 ainda permaneciam pré-hipertensos.
A partir daí, o grupo foi sorteado para tomar os diuréticos associados ou placebo. Após 18 meses, a turma que tomou a medicação conseguiu reduzir em quase 45% os valores da pressão arterial em relação aos que ingeriram placebo. Isso, segundo a professora Sandra Fuchs, traz evidências da importância de o tratamento contra a hipertensão começar já na fase pré-hipertensiva, com doses baixas de diuréticos.
– O tratamento com diuréticos também diminuiu a massa do coração. Isso significa menor risco de doenças cardiovasculares – completou Sandra.
Nas avaliações do Prever 2, foram selecionados 655 hipertensos, que também foram divididos em dois grupos – um recebeu a combinação de diuréticos, e outro, a losartana. Em consultas periódicas, a pressão arterial foi aferida e notou-se, ao final de uma ano e meio, que os pacientes tratados com diuréticos tiveram redução maior da pressão do que os que ingeriram a losartana. Este segundo grupo, inclusive, precisou aumentar as doses de anti-hipertensivo ao longo das consultas.
– Nosso estudo mostra que a losartana é menos eficiente. Claro, entendemos que muita gente contesta isso. A maioria dos médicos receita a losartana porque ela é bem tolerada, mas ela não previne infarto, previne AVC. Os diuréticos são mais baratos, poderiam representar economia na saúde pública – avalia Flávio Fuchs.
A convite do Ministério da Saúde, os professores estarão em Brasília nesta quarta-feira para apresentar detalhes do estudo, em reunião que deve contar com a participação de representantes do programa Farmácia Popular.
Pressão 12 por 8 é arriscado?
Diante dos dados, aqueles que têm pressão arterial 12 por 8 podem estar se perguntando se devem correr para o médico e iniciar um tratamento. Não é bem assim. Os pesquisadores do Clínicas ressaltam que uma medição casual da pressão não é a melhor forma de descobrir problemas, é preciso uma avaliação periódica para que se tenha um valor mais seguro, que indique a chamada pressão usual.
Os parâmetros atuais adotados no Brasil ainda consideram a pressão 12 por 8 normal, mas, como apontam estudos, o ideal seria abaixo disso. Por isso, muitos pesquisadores (e médicos) preferem apostar em valores menores do que 12 por 8 como pressão ideal.
Independentemente disso, a prevenção da pré e da hipertensão passa por uma alimentação saudável, que valoriza frutas e verduras e a redução do consumo de sódio, além da prática regular de atividade física. Sugere-se que jovem saudáveis verifiquem ao menos uma vez por ano a pressão arterial.
O estudo Prever, que começou em 2008 e envolveu 21 centros de pesquisa do Brasil, ainda organizou uma cartilha sobre bons hábitos e dicas de alimentação para reforçar a importância da prevenção desde cedo.