Por que, em meio a uma natureza originalmente tão diversificada, somos seres que se incomodam tanto com o diferente? Cor diferente, cultura, origem, jeito, pensamento, conceitos diferentes. Muitas são as pessoas que se incomodam de forma grave com tudo aquilo que lhes parece dessemelhante.
Em um final de semana de decisões políticas, falar sobre a variedade – seja de ideias, valores ou apenas candidatos – me parece bastante importante e, ao mesmo tempo, desafiador. Importante, pois, apesar de as diferenças fazerem parte do nosso cotidiano e trazerem uma riqueza enorme, são vistas, em muitos casos, como dignas de rechaço, o que torna o assunto um desafio.
Para começar, a palavra tolerar já pressupõe uma aparente superioridade de quem a profere, pois, se eu preciso suportar algo, passo a ideia de que a minha verdade é mais considerável que a verdade do outro. E é exatamente esse excesso de verdade que incita a intolerância, que nada mais é do que a redução da realidade a uma única verdade. E como haver uma verdade incontestável, um único jeito de ser, uma única opinião em uma pluralidade infindável de seres?
Embora estejamos em um mundo extremamente globalizado, no sentido de que informações são compartilhadas em fração de segundos pelo planeta inteiro, estamos, em contrapartida, cada vez mais hostis. Não conseguimos acolher o que nos parece incomum. E como motivação para isso, usamos as mais variadas desculpas descabidas, porque intolerância vem do preconceito e preconceito vem da ignorância. Ou seja, o preconceito não é raciocinado, ele é totalmente emocional e proveniente de crenças equivocadas e total falta de empatia.
Só que atos de intolerância e preconceito não são velhas lembranças de um mundo pré-civilizado. Eles convivem conosco diariamente, seja em uma conversa descontraída, em um ambiente de trabalho ou nas redes sociais. E pior do que isso: atos de intolerância e preconceito convivem lado a lado com a infância. A cada comentário cruel, observação maldosa, opinião impiedosa ou inflexibilidade pungente, estamos mostrando às crianças como elas devem agir, porque nós adultos somos seu modelo. E é assim, a partir de exemplos, que nossos pequenos vão se transformando no que ainda está por vir – também conhecido como futuro.
Você já se perguntou que futuro deseja? Pois não esqueça que ele está sendo construído agora, por meio das nossas crianças.