Amamentação exclusiva até os seis meses e o não uso da chupeta são recomendações de longa data de órgãos como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) que foram acatadas pelo Ministério da Saúde e pela Sociedade Brasileira de Pediatria. No entanto, uma revisão de evidências científicas organizada pela Força-tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF), uma comissão independente de especialistas, propõe algumas mudanças nesses conceitos.
Conversamos com dois pediatras sobre os principais pontos do relatório. Confira.
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Uso da chupeta
De acordo com o relatório, evitar o uso da chupeta não está associado a melhoras na amamentação e, inclusive, o acessório é recomendado como forma de reduzir do risco de síndrome da morte súbita infantil (SMSI), principal causa de morte de bebês nos Estados Unidos.
– A chupeta é controversa, mas não há uma posição contra ela. Pode ter vantagens, protegendo contra a morte súbita, acalmando a criança e diminuindo a ansiedade da mãe. O que a gente quer é que a criança aprenda a mamar, sugue bem o seio e use a chupeta só para se acalmar. Mas não há uma posição absolutamente contrária para não usar – avalia o pediatra e membro da diretoria da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul Benjamin Roitman.
Para ele, a proibição só deve ocorrer nas primeiras semanas de vida do bebê, até que ele se acostume a sugar o leite. Depois, poderia ser usada, caso os pais achem necessário. Por outro lado, a pediatra Rosa Maria Negri Rodrigues Alves, membro o Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria, não vê benefícios no uso do item:
– Há pesquisas que mostram prejuízos da chupeta na amamentação. Uma hora é bico da chupeta, outra hora do peito. As crianças que usam chupeta mamam por menos tempo – diz, acrescentando que o uso do acessório ainda pode trazer deformações na arcada dentária e risco de contaminação.
Complemento alimentar nos primeiros dias de vida
Outro ponto polêmico do relatório diz respeito ao uso exclusivo de leite materno nos primeiros dias de vida do bebê. Os pesquisadores avaliaram que, na prática, esta regra pode aumentar o risco de desidratação logo na primeira semana de vida. Conforme Roitman, embora os benefícios do leite materno sejam amplamente conhecidos, muitas vezes o leite demora a descer na quantidade ideal – o que pode levar de dois a cinco dias –, criando a necessidade de acrescentar um complemento alimentar.
– Se a mãe tem pouco leite, é de bom senso oferecer um complemento para ajudar na amamentação.
Nesses casos, o médico reforça que a única proibição é o uso de mamadeiras, que devem ser substituídas por um copinho.
– Mamadeira logo no início atrapalha o aleitamento, segundo vários estudos – reforça.
Introdução de alimentos antes dos seis meses
O trabalho toca em outro ponto controverso sobre a alimentação infantil: a exclusividade do leite materno até os seis meses de vida. Para os autores, algumas crianças poderiam se beneficiar de pequenas introduções de alimentos altamente alergênicos, como o amendoim, entre os seus primeiros quatro e seis meses. Acontece que, conforme Roitman, nos Estados Unidos, o aleitamento não é tão enfatizado como no Brasil, o que faz com que as mães amamentem por poucos meses. No Brasil, o pediatra afirma que a orientação é que até o sexto mês de vida do bebê seja oferecido somente leite materno. Contudo, não se pode condenar as mães que acrescentam frutas à alimentação dos pequenos.
– Não se trata de certo ou errado. Mas, se for possível manter somente a amamentação até o sexto mês, só vai trazer vantagens para o bebê e para a mãe – garante o médico.
Já quanto à introdução de alimentos com potencial de provocar alergias, o especialista diz que a norma antiga – que previa itens como peixes e ovos somente depois de um ano de vida – foi revista e, agora, considera a inclusão destes produtos entre os sete e nove meses.
– Como toda pesquisa, esta revisão não deve ser tomada como verdade absoluta. São necessários mais estudos para comprovar os levantamentos – observa Roitman.