Em 2011, minha irmã foi ao Instituto Inhotim, em Minas Gerais, e me falou que eu precisava conhecer o que, na época, chamou de "Disney do futuro". Demorou, mas finalmente fui visitar Inhotim, que acaba de completar 10 anos aberto à visitação. Fui de filha com minha mãe, e voltei louca para ir de mãe com meus filhos. Inhotim é palco de uma sintonia surreal entre arte contemporânea, botânica e arquitetura.
Torceu a cara para o tema? Papo cabeça? Difícil para as crianças? Pelo contrário. É uma montanha-russa de surpresas. Um jardim de emoções. Vá de coração e olhos bem abertos. A grande proposta do espaço é sair do plano de observador para o de protagonista da obra. É literalmente entrar na tela, afinal, cada ângulo em Inhotim é uma pintura a ser percorrida, olhares a serem pincelados.
Antes da abertura para o grande público, Inhotim era o refúgio de final de semana do empresário mineiro, magnata da mineração, Bernardo Paz. Aos poucos, o espaço foi se transformando e recebeu as mãos de mestres no plano artístico: Roberto Burle Marx (patrono do paisagismo em Inhotim) e Tunga, um dos maiores nomes da arte brasileira. Ambos foram grandes influenciadores de Paz no sonho de criar a "Disneylândia" da arte contemporânea e da natureza.
Localizado a cerca de 60 quilômetros de Belo Horizonte, na cidade de Brumadinho, Inhotim é, antes de mais nada, um parque de infinitas sensações para qualquer idade ou classe social. E não é preciso ser especialista em arte ou botânica para viver a experiência concentrada que Inhotim proporciona. É necessário apenas estar com um bom tênis e roupas leves. Indispensável, também, entregar-se à dispersão pitoresca dos percursos, evitar feriados e levar um repelente na bolsa. E ainda: roupa de banho nos dias quentes para caso surja a vontade repentina de mergulhar em uma das piscinas do parque.
Inhotim ostenta o título de maior museu a céu aberto da América Latina. Impossível ver tudo em apenas um dia, por isso é importante selecionar as preferências, comprar o bilhete do transporte de carrinho elétrico e traçar o seu roteiro no mapa que é entregue na bilheteria. Com crianças, sugiro: o banho na piscina com letras de Jorge Macchi, a obra Magic square de Oiticica, no jardim, a sala vermelha de Cildo Meireles, a Galeria Cosmococa, os centenas de bancos de Hugo França, os vasos de cerâmica que formam letras (no galpão de jardinagem), o Viveiro Educador, o almoço no maravilhoso restaurante Tamboril, o caleidoscópio gigante (Ólafur Eliasson) e, enfim, todo o espaço disponível para correr, brincar, rolar e tocar.
Há muito para se absorver em Inhotim. Fotografias de Claudia Andujar, o buraco profundo que capta o som da terra (no pavilhão de Doug Aitken), o imenso tamboril (árvore coração de Inhotim) e as esculturas ao ar livre. É um mundo à parte, original e expressivo, onde os horizontes se ampliam.
Aproveito a data do Dia dos Pais para dedicar a coluna ao meu grande leitor, meu pai. Quando criança, ele me contou que todos temos uma varinha mágica dentro de nós. Para que ela funcione de verdade, precisa ser exercitada ao longo da vida, de diversas maneiras. Pois bem, Inhotim é um bom lugar para treinar varinhas. Feliz Dia dos Pais!