O grande, o imenso, o tremendo, o desastroso mal do século, na minha opinião, é a falta de empatia. Para quem não sabe: empatia, substantivo feminino; habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa; compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outro. Só isso já é mais do que suficiente para eu dizer que a empatia, para mim, é muito mais do que um substantivo. É puro adjetivo.
Empatia é a capacidade, quase extinta, do ser humano colocar-se no lugar do outro e parar antes de render-se ao impulso de falar ou de fazer algo que machuque, magoe ou coloque deliberadamente o outro em uma posição dolorosa ou humilhante.
É a falta de empatia que impede que o motorista do carro dê lugar ao outro que está dando pisca. É a falta de empatia que permite que o colega mais forte pegue o lanche do mais fraco. É a falta de empatia que sustenta o conselho "se ele te bateu, bate de volta". É a falta de empatia que concede a possibilidade de alguém dar um "furo" na fila, seja do cinema ou do caixa, para amigos, sem pensar no restante que está atrás. É a falta de empatia que consente que um cargo seja ocupado pelo mais amigo em vez do mais competente. É a falta de empatia que consente que se xingue o professor pela frustração em relação aos filhos. É a falta de empatia que provoca muitos dos roubos, dos sequestros, dos assassinatos.
Ter empatia é difícil. Ainda mais em um mundo que nos exige produtividade e excelência full time. Ter empatia dá trabalho. Faz com que saiamos da confortável posição de exclusividade e enxerguemos o outro. Aliás, mais do que ver o outro, exige que nos coloquemos em seu lugar. Que abandonemos o "egocentrismo infantil de estimação" e olhemos em torno.
E olhar em torno causa vertigem. Olhar em torno provoca medo e angústia. Olhar em torno faz com que percebamos que há menos e que há mais do que nós. Olhar em torno faz com que percebamos que há. Há muito. Há muitos.
Mas ter empatia é aprendizado! Ninguém nasce empático. Nos tornamos – ou não. Empatia se ensina, se exercita, se treina. E é imensamente mais fácil quando se é criança. E é ainda mais fácil quando se é pai ou mãe. Mas ser empático com os próprios filhos não é mérito algum. Se os filhos nada mais são do que extensão de nós mesmos, estaremos apenas nos cuidando e nos beneficiando.
De seres humanos narcisistas, conectados a tudo e desconectados do outro, já temos um grande contingente. O que precisamos agora é de altruísmo. E quando nos tornamos pais, ganhamos a oportunidade de aprendermos a ser empáticos – se ainda não somos. E a oportunidade de criarmos crianças empáticas – um verdadeiro presente para o mundo. Aproveitemos essa vantagem!