Ao receber o resultado de uma pesquisa feita com 506 crianças de Lajeado, no Vale do Taquari, a professora de otorrinolaringologia da USP Tanit Ganz Sanchez ficou surpresa: 31% deles apresentavam zumbido na audição. O problema atinge, em média, 20% de todas as pessoas do mundo, independentemente da faixa etária.
– Meu queixo caiu. Um terço daquelas crianças tinham um problema na audição que pode levar à surdez. Quando recebi o resultado me perguntei: se tanta criança apresenta o problema, como estão os adolescentes?
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A pesquisa realizada em Lajeado foi feita em 2007. Então, Tanit começou um novo estudo. Desta vez, analisou crianças e adolescentes de 11 a 17 anos de São Paulo. Os resultados novamente surpreenderam a pesquisadora e foram publicados na revista científica Scientific Reports, do grupo Nature.
– O número de adolescentes que relataram zumbido fez meu queixo cair até o pé. 93 dos 170 entrevistados falaram que tinham zumbido o tempo todo, não apenas depois da balada ou de usar fones de ouvido. Quando perguntei o quanto o problema incomodava, a média foi super baixa. Ou seja, eles nem percebem que têm o problema – contou.
O zumbido é um um barulho no ouvido, que pode ser percebido melhor quando há silêncio. Algumas pesquisas o comparam com um chiado ou apito. Trata-se de um sintoma de perda de audição, uma vez que indica que houve uma lesão de células do ouvido. Hábitos como a exposição a altos níveis de vibrações sonoras, como uma explosão, fogos de artifício, som alto de um fone de ouvido ou de um show, sobrecarregam as células do ouvido que podem sofrer lesões temporárias ou definitivas.
Tanit foi além da entrevista e levou uma cabine de audiometria para dentro da escola em que os jovens analisados estudavam. Então, um novo problema apareceu no exame: os adolescentes que relataram zumbido também eram mais sensíveis ao som.
– Volumes baixos já incomodavam esses jovens – disse Tanit.
Os dados são alarmantes, segundo a pesquisadora, porque, para medir a audição, otorrinos e fonoaudiólogos contam com o relato dos pacientes, seja em entrevista, seja durante a audiometria.
– A questão é que os adolescentes relatam que não se incomodam com o zumbido e, se não incomoda, eles também não falam aos pais e não tratam o problema. Já estão perdendo a audição. Essa geração tem potencial para viver cem anos, mas vai ficar surda mais rápido, com 30, 40 anos. – apontou a pesquisadora.
Balada e fones aceleram o problema
Tanit explica que os jovens têm se submetido a hábitos de risco sem cuidar da saúde auditiva. Fones de ouvido e ouvir música alta, como em shows, podem acelerar a perda da audição, principalmente de jovens que têm ouvidos mais sensíveis. Mas como saber quem está mais suscetível ao problema?
– Se, ao sair da balada, se ouve um zumbido, isso é sinal de vulnerabilidade. Muitos jovens encaram o fato como algo normal, mas não é. Não precisa deixar de ir à balada ou de ouvir música nos fones, mas é preciso tomar cuidado – alerta.
Como proteger a audição
Segundo Tanit, o ideal é ir a um show ou festa usando tampões. Mas a médica sabe que os jovens não seguem essa regra. Por isso, adotar o hábito de, a cada hora, deixar o ambiente barulhento por 10 minutos pode ser uma medida protetora. O mesmo vale para os fones de ouvido. Além de não usar o aparelho com volume alto, dar um descanso para a audição a cada hora pode retardar o problema.