É uma boa ideia começar este texto com uma pergunta? Ou seria melhor ir logo introduzindo o assunto? Tomar decisões é algo tão corriqueiro que, por vezes, nem nos damos conta do quanto isso faz parte das nossas vidas. Pode ser algo pequeno – vermelho ou azul?, ver um filme ou ler um livro? –, talvez sem grandes efeitos a longo prazo, ou uma escolha que pode mudar vidas – trocar ou não de cidade?, casar ou comprar uma bicicleta? –, mas a necessidade de decidir é uma constante. Com ela, vem também a hesitação.
Pensando bem, talvez ter começado com uma pergunta não tenha sido a melhor opção... Ou será que foi? Dúvidas assim, das mais comuns aos grandes dilemas, também fazem parte desse processo. E a maneira de reagir a elas define muito quem somos. Pode ser que, diante de algumas opções – como, digamos, ler ou não este texto, abordar ou deixar de lado aquele assunto espinhoso com seu amigo, demitir um ou outro funcionário – você nem titubeie: acha que é assim e pronto. Ou passe horas, dias cogitando as possibilidades e avaliando as consequências antes de decidir – e ainda assim o faça sem muita convicção.
Um assunto com tantas implicações torna-se um prato cheio para a psicologia. Tudo o que está envolvido na tomada de decisão vira alvo de estudos, que têm sido aplicados da economia ao marketing, do direito à saúde. Se, só para citar um exemplo, uma bela barra de chocolates está bem a sua frente no supermercado enquanto a farinha fica lá embaixo, não é por acaso. Há muitas pesquisas sobre decisão que influenciaram nisso.
Presentes em todos os aspectos da vida, as decisões podem ser divididas em seis grandes áreas: financeiras, que envolvem investimentos e apostas; da saúde, contemplando opções sobre tratamentos e remédios, entre outras; de segurança, sobre contratar ou não um seguro, falar ou não ao celular na rua; recreacional, em que entram escolhas como ir à academia ou ao cinema; social, que contempla a vida pessoal e profissional; e ética, como optar por trapacear em um jogo.
As explicações sobre algumas delas você confere a seguir. Se quiser, claro.
Decisão da saúde: a vida em risco
Para nenhuma outra área as decisões parecem ser tão importantes: quando a escolha é entre viver ou morrer, todas as demais se tornam menores. Tamanha importância às vezes opõe e às vezes une médicos e pacientes. Parar de fumar, diminuir a ingestão de alimentos com colesterol e fazer exercícios físicos são sugestões que podem ser seguidas ou não. Cabe a cada um decidir, mas se pode escapar das consequências.
– Em muitos casos, o paciente quer uma coisa, e o médico quer outra, e lidar com esses dilemas pode ser muito difícil. Nem sempre existe uma única resposta certa – pondera a biomédica Roberta Silvestrin.
Optar por não tomar um medicamento, usar protetor solar ou buscar um tratamento alternativo para determinada doença são outros exemplos de decisões que envolvem a saúde. Seguir algumas orientações religiosas também pode ter impacto nisso: as testemunhas de Jeová, por exemplo, têm restrições quanto à transfusão de sangue.
Para a pesquisadora Priscila Brust Renck, que fez seu doutorado sobre tomada de decisão, não há área mais sensível nesse contexto que a da saúde:
– Se você ouvir que hoje tem 12% de chance de chover, talvez nem leve guarda-chuva. Mas saber que tem a mesma probabilidade de ter um infarto possivelmente fará você reavaliar seus hábitos.
Decisão financeira: dói no bolso
Diz-se que a parte mais sensível do corpo humano é o bolso. Quando se trata de tomar uma decisão, a frase não poderia ser mais verdadeira. Entre os principais momentos de hesitação, estão aqueles em que uma escolha errada pode acarretar perdas financeiras – e o medo de se ver sem dinheiro, com dívidas a pagar, é um grande desmotivador para qualquer um.
– É comum levarmos em conta as possibilidades, consequências e nossas experiências anteriores de vida antes de decidirmos algo. Com o dinheiro, não é diferente. Afinal, quanto maior o risco, maior a preocupação – diz a pesquisadora Priscila.
Na vida de empresários, esses riscos podem ser altos: investir parte do faturamento em um novo negócio pode tanto significar expansão quanto declínio, possibilidades que, não raro, demoram anos para aparecer. No dia a dia de todo mundo, porém, as decisões financeiras também são frequentes, e nem sempre simples como comer em casa ou em um restaurante.
Comprar um imóvel ou continuar pagando aluguel, investir em um carro ou seguir utilizando o transporte público, entre outras, são opções que, dependendo do perfil de cada um, podem causar muito dor de cabeça.
Decisão social: a hora da virada na vida profissional
Foi após passar por uma reviravolta profissional que Gabriel Carneiro Costa se credenciou para ajudar as pessoas que também precisam tomar decisões difíceis na carreira. Há cerca de seis anos, um conjunto de acontecimentos o levou a deixar a empresa onde trabalhava e partir do zero para uma nova frente de trabalho.
– Minha decisão não foi um “clic”, foi um “cliiiiic”. Comecei a ficar na dúvida quanto à minha carreira, a ter desgaste na minha empresa, com meu sócio, com clientes. Não quis mais continuar daquele jeito – diz Gabriel, hoje coach de vida e escritor.
Quando fez sua escolha e nos momentos que antecederam a decisão, Gabriel revela que não contou com muito apoio. Admitir para outros a necessidade de mudar, ele entende, geralmente causa embaraço: é como reconhecer um grande erro. Foi assim, em meio à descrença, que ele passou os três primeiros anos da nova vida – um período difícil que agora vê superado:
– Passei por alguns momentos de muita dor, tristeza, choro. Mas isso também mudou. Busquei ajuda, cresci profissionalmente e hoje vejo que fiz uma escolha muito positiva.
O coach costuma dizer a seus clientes que, toda vez que se muda, é preciso voltar alguns passos. Foi assim na sua carreira, foi assim com a executiva que preferia atender pessoas, com o empresário que não queria mais tanta responsabilidade. Gabriel hoje acredita que, passadas as primeiras dificuldades, sua decisão foi acertada: ter mudado de vida o fez, sim, mais feliz.
Decisão social: a hora da virada na vida pessoal
Foi no período mais difícil de sua vida, quando se viu no hospital após mais um forte ataque de pânico, que Felipe Goettems decidiu mudar. Disse para si mesmo: “Vida, você é minha. Não vou mais ser refém”.
A primeira parte da frase está agora tatuada em seu braço. No corpo, ele carrega também outra sentença: “a vida começa onde o medo termina”. Sofrendo graves crises de ansiedade até aquele momento, problema que o acompanhava desde a infância, Felipe resolveu que precisava tomar controle do seu rumo. Estava cansado de desistir de um objetivo antes de completá-lo, de abandonar uma opção no meio do caminho, de não acreditar em si mesmo:
– Eu me dei conta de que não estava feliz, e que precisava reverter isso. Tomei essa decisão em um momento crucial porque realmente precisava fazer algo.
Ele relata que conviver durante décadas com a ansiedade trouxe muitas dificuldades na vida. Das relações pessoais até o profissional, da desistência de um curso na faculdade ao fim de um negócio, o medo o fez abdicar de muitas coisas. Hoje, porém, ele reverteu a situação.
– Decidir pela minha vida, pelo autoconhecimento, e saber gerenciar meus medos, minha ansiedade, me fez ter confiança para realizar muitos sonhos. Depois disso, nunca mais tive crises de pânico. Encontrei a felicidade – descreve o empresário, que saiu de Porto Alegre e hoje mora em Fortaleza com a mulher.