Uma pesquisa publicada nesta semana pela revista científica Nature apresenta ótimas perspectivas para o tratamento do câncer de mama, a maior causa de morte de mulheres entre 15 e 49 anos no mundo. Saudado como um dos mais completos e importantes já realizados, o estudo do Wellcome Trust Sanger Institute, na Inglaterra, permitirá que se identifiquem as mutações genéticas responsáveis pelo surgimento de tumores e também o desenvolvimento de tratamentos personalizados – as chamadas terapias-alvo – nos estágios iniciais da doença.
Avaliaram-se, no experimento, os perfis genéticos de 560 pacientes com tumores de mama. No total, o genoma humano é composto por cerca de 20 mil genes, e os cientistas apontaram 93 genes que, quando sofrem mutações, transformam uma célula normal da mama em uma célula doente. Alguns desses genes já eram conhecidos, mas se chegou a uma lista mais ampla.
– Agora temos uma visão completa do câncer de mama – afirmou Michael Stratton, líder do estudo, em entrevista à BBC.
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Os 93 genes relacionados são responsáveis pelos casos de câncer chamados de aleatórios, que correspondem por até 95% das ocorrências no Brasil: não há, entre os parentes próximos da paciente, registros prévios de tumor de mama. São as situações mais desafiadoras para os especialistas, o que torna necessária a rotina de exames periódicos de rastreamento, como a mamografia, a partir dos 40 anos. Os casos mais previsíveis, correspondentes aos 5% restantes, são similares ao da atriz americana Angelina Jolie, que tinha um histórico familiar de mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 e optou, em 2013, pela extração total dos seios, antes que pudesse ser acometida por tumores agressivos.
Com base nas conclusões do estudo inglês, novos medicamentos poderão começar a ser produzidos – em média, estima-se um período de 10 anos para que uma droga passe por todos os testes necessários até chegar ao mercado. José Luiz Pedrini, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – Região Sul e diretor do Instituto de Medicina, Pesquisa e Desenvolvimento, acredita que, antes disso, seja possível obter testes rápidos, baseados em amostras de sangue ou saliva, que apontem a presença dos genes "perigosos" no DNA – hoje em dia, testes genômicos são procedimentos caros, de acesso restrito. As alterações poderão então ser flagradas ainda no início da evolução da doença, aumentando-se a chance de sucesso – e reduzindo-se a duração e o custo – dos tratamentos. Por outro lado, se o teste indicar a ausência de mutações, a paciente será poupada de anos de rastreamento desnecessário.
– Não será mais preciso fazer mamografia. Se não há nenhum gene alterado, a chance de câncer de mama é nula – explica o mastologista. – É um novo caminho. Vai melhorar muito o combate ao câncer em situação inicial – completa.
Neste novo cenário, segundo Pedrini, as 10 mil mortes anuais por câncer de mama no país poderão ser significativamente reduzidas ou até mesmo zeradas.