Um estudo publicado na edição de maio de um dos mais importantes periódicos médicos do mundo, o The New England Journal of Medicine (NEJM), pode mudar a conduta dos médicos no tratamento do acidente vascular cerebral (AVC). A segurança de uma medicação que dissolve o coágulo que obstrui a circulação cerebral no AVC isquêmico foi estudada por pesquisadores do Instituto George para a Saúde Global, na Austrália, com resultados que mostram que uma dosagem menor pode reduzir a hemorragia grave no cérebro e melhorar as taxas de sobrevivência.
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Mais de três mil pacientes em cem hospitais de todo o mundo participaram do estudo. O RtPA intravenoso é dado a pessoas com AVC isquêmico agudo. Ele tem papel de dissolver os coágulos que bloqueiam o fluxo de sangue para o cérebro. Em geral, o tratamento diminui as chances de os pacientes terem sequelas ao acidente. No entanto, em cerca de 5% dos casos, pode ocorrer hemorragias graves no cérebro, o que pode ser fatal.
– É imprevisível saber quem vai responder bem ao tratamento e que está em risco com o rtPA. O que nós mostramos é que, se reduzir a dose da medicação, mantemos a maior parte dos benefícios do tratamento com a dose mais elevada, mas com muito menos sangramentos maiores e melhores taxas de sobrevivência. Em uma escala global, esta abordagem poderia salvar as vidas de muitas dezenas de milhares de pessoas – disse Craig Anderson, principal autor do estudo.
O rtPA é utilizado para dissolver coágulos que bloqueiam um vaso sanguíneo no cérebro de um paciente até 4,5 horas após o início dos sintomas de AVC. No entanto, como muitas pessoas com AVC chegam ao hospital após este tempo, apenas cerca de 5% das pessoas recebem o medicamento na maioria dos países.
Em comparação com a dose padrão, a nova dose, menor em 0,3mg/kg, reduziu em dois terços as taxas de hemorragias graves no cérebro. A porcentagem de mortalidade também caiu. 90 dias depois de terem recebido a dose corrigida, apenas 8,5% dos pacientes morreram. Com a medida anterior, maior, o índice chegava a 10,3%. No entanto, o número de pessoas que ficaram com alguma deficiência residual aumentou entre os sobreviventes. Antes, com a dose maior, a cada mil pacientes tratados, 19 podiam ficam com sequelas como a necessidade de ajuda para se vestir ou ficar de pé. Com a nova medida, 41 apresentaram deficiências físicas.
O AVC é a segunda causa que mais causa mortes no Brasil, atrás apenas do infarto. No país, são registradas cerca de 68 mil mortes a cada ano. Em todo o mundo, a doença atinge 16 milhões de pessoas por ano.
– Provavelmente este estudo vai mudar a conduta do tratamento do AVC no Brasil, possibilitando oferecer o tratamento com menor dose para aqueles pacientes com maior risco de hemorragia. Além disso, com a utilização de menor dose do tratamento para parte dos pacientes, o custo do tratamento diminui, facilitando a utilização em maior escala no SUS, assim como em países onde o tratamento ainda é muito caro – ressaltou a neurologista Sheila Martins, chefe do serviço médico de neurologia e neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento, que participou da construção da pesquisa.