Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira, no Rio de Janeiro, revela como o zika age nos tecidos cerebrais levando a malformações neurológicas em bebês, entre elas a microcefalia. O trabalho, publicado na revista científica Science, pode ajudar a encontrar medicamentos que reduzam os danos causados pelo vírus na infecção de grávidas.
O estudo foi feito por cientistas do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), liderados pelo neurocientista das duas instituições Stevens Rehen.
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A partir de células-tronco humanas, os pesquisadores criaram minicérebros ou organoides cerebrais, similares ao cérebro humano em desenvolvimento. Os modelos adotados são complexos do que culturas celulares.
– A partir do momento em que a gente usa neuroesferas e minicérebros, consegue identificar alterações que não observaria com outro tipo de estratégia – explicou Rehen.
Segundo o neurocientista, a metodologia permite identificar a relação entre o zika e malformações cerebrais e mostrar como as consequências variam de acordo com a etapa da gravidez em que ocorre a infecção.
A partir desse modelo de pesquisa, dez medicamentos estão sendo testados para impedir a infecção ou reduzir os impactos do vírus sobre o cérebro. Um deles, segundo Rehen, pode reduzir a morte cerebral causada pelo zika. No entanto, serão necessários novos testes para apresentar o medicamento como alternativa para as mulheres grávidas.
Os remédios em teste já têm a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para outras doenças e poderiam ter no combate ao zika um segundo uso.
Dados preliminares sobre a eficácia do medicamento mostram que a fórmula protege contra o ataque do vírus, mas não está confirmado se é capaz de reduzir a replicação viral dentro da célula-tronco neural, de acordo com o neurocientista. Rehen espera chegar a novas conclusões sobre a possibilidade de tratamento em dois meses.
Os cientistas também expuseram os minicérebros ao vírus da dengue, mas perceberam que, apesar de a infecção ser maior que a do zika, praticamente inexistem as consequências relacionadas a malformações.
– Não há danos ao tecido. O vírus replica, mas ele não tem como consequência alterar o padrão de morte celular, nem alterações morfológicas, nem malformações no modelo que a gente usa – explicou Rehen.
Dependendo do modelo utilizado, a pesquisa indicou que o vírus Zika pode agir em um tecido do cérebro com três dias, seis ou 11 dias de infecção.
– Dependendo de quando acontece essa infecção, as consequências para a formação do tecido podem ser mais ou menos drásticas – disse o neurocientista.
Com 11 dias, o crescimento do minicérebro é 40% inferior ao dos não infectados, revelou a pesquisa.