A falta de vacinas nos postos de saúde tem sido rotineira em todo o país. Mas havia tempo que os Estados e municípios não registravam tamanha escassez de doses fundamentais para a população - desde aquelas que devem ser aplicadas logo durante a gravidez até as que imunizam adultos e crianças contra doenças graves. No Rio Grande do Sul, após mais de três meses de espera, algumas das principais vacinas finalmente começaram a chegar à rede pública.
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A distribuição, porém, está sendo feita aos poucos, e só deve ser finalizada na semana que vem. A Secretaria Estadual da Saúde (SES) recebeu as vacinas no final da semana passada, e agora estuda quantas e quais doses vai encaminhar a cada uma das 19 coordenadorias-regionais. Conforme o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), os primeiros repasses às coordenadorias já tiveram início, e o próximo passo é enviá-los aos municípios para abastecimento.
Na Capital, onde a expectativa é distribuir todas as doses recebidas até segunda-feira, a chefe do Núcleo de Imunizações da Secretaria Municipal da Saúde, Patrícia Wiederkehr, comemora a chegada das vacinas:
- Não recordamos de um desabastecimento tão importante em Porto Alegre. Algumas vezes recebemos um quantitativo menor do que o solicitado, mas nos últimos anos não lembramos de um período desse tamanho com tantas vacinas importantes em falta.
Patrícia destaca que o Programa Nacional de Imunizações disponibiliza 400 milhões de doses de 44 imunobiológicos por ano e é reconhecido internacionalmente pelo importante trabalho que realiza. O programa do Ministério da Saúde, porém, tem falhado no repasse dos produtos a postos e hospitais de todo o país - questão que relaciona à indisponibilidade de algumas vacinas nos mercados nacional e internacional nos últimos meses.
Segundo a SES, os problemas na distribuição ocorrem desde julho do ano passado, tendo se acentuado no último trimestre. A quantidade encaminhada ao Estado neste mês, apesar de suprir mais do que era esperado para fevereiro, ainda não é suficiente para compensar os meses em que não houve distribuição de vacinas.
- Em razão do período de desabastecimento, existe uma demanda reprimida significativa de usuários aguardando as doses para a atualização dos calendários vacinais. Dessa forma, a normalização da oferta ainda pode demandar mais tempo - afirma a diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Marilina Bercini.
Apesar da chegada de doses, problema não está solucionado
Com estoques em baixa e uma demanda não totalmente suprida pelas remessas recém-enviadas, as secretarias municipais e estadual têm de fazer escolhas na distribuição de vacinas. A ideia é priorizar grupos como gestantes, crianças e vítimas de acidentes - no caso da vacina contra a raiva, por exemplo -, então algumas unidades podem chegar antes a maternidades e emergências de hospitais do que a postos de saúde.
Para lidar com o problema, a secretaria estadual recomenda a centralização dos estoques ainda guardados pelos municípios, o atendimento em cidades de referência e a colaboração entre as diversas coordenadorias regionais quando necessário. Apesar de explicar que o volume recebido não é o suficiente, a Secretaria Estadual da Saúde não divulgou quantas vacinas faltavam e quantas foram recebidas. Os dados tampouco foram detalhados pelo Ministério da Saúde.
- Estamos tentando administrar esta situação por meio do remanejamento das doses ainda existentes, procurando não prejudicar a população que busca este tipo de atendimento - explica o chefe adjunto da 6ª Coordenadoria Regional de Saúde, com sede em Passo Fundo, Luiz Fabricio Scheis.
Em Porto Alegre, o remanejo tem sido feito desde o final do ano passado. Foram priorizadas maternidades com a vacina contra a hepatite B, hospitais - de Pronto Socorro e Cristo Redentor - com doses da dT, que previne o tétano, e o Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais recebeu mais vacinas para gestantes.
Sem garantir que o problema da aquisição e envio das vacinas foi resolvido no país, o Ministério da Saúde espera que a distribuição seja normalizada em breve.
"A situação (...) tenderá a se regularizar conforme sejam cumpridos os cronogramas de entrega para os próximos meses, permanecendo o uso racional", garantiu, em nota, a assessoria de comunicação da pasta.