Na manhã desta sexta-feira, foi noticiado um acidente ocorrido durante um teste terapêutico, que envolvia um produto analgésico à base de cannabis, na França. O experimento, realizado por um centro de pesquisas chancelado pelo Ministério da Saúde, resultou na morte cerebral de um paciente e deixou outros cinco em estado grave.
No entanto, disse a ministra da Saúde francesa, Marisol Touraine, no mesmo dia em que foi divulgada a nota, que o medicamento usado no ensaio clínico não contém qualquer derivado de cannabis, contrariando as informações anteriores.
– Não continha cannabis nem qualquer derivado de cannabis – afirmou a ministra em entrevista coletiva.
Os testes foram conduzidos por um laboratório privado para a empresa farmacêutica portuguesa Bial, que já indicou que vai emitir um comunicado sobre o assunto.
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Anteriormente, uma fonte próxima do laboratório tinha dito à agência France Presse que o produto testado é uma molécula com efeitos analgésicos contendo um canabinóide.
Segundo a ministra, no laboratório da empresa Biotrial, em Rennes, oeste da França, o medicamento analgésico foi dado a 90 pessoas que participaram voluntariamente dos ensaios clínicos e que começaram a manifestar sintomas no domingo passado.
Pierre-Gilles Edan, diretor do departamento de neurologia do hospital de Rennes, onde os doentes afetados foram internados, afirmou que, das seis pessoas afetadas, uma está em morte cerebral e outras três sofreram "lesões que poderão ser irreversíveis". Edan adiantou que os pacientes têm entre 28 e 49 anos e que a primeira vítima a chegar ao serviço, e que se encontra em coma, apresentava sintomas de acidente vascular cerebral (AVC).
A ministra francesa disse que se trata de um acidente inédito na França, cujas causas ainda são desconhecidas, e que todas as pessoas afetadas pertenciam ao mesmo grupo, a quem o medicamento foi ministrado de forma repetida.
Marisol Touraine garantiu que os ensaios clínicos foram interrompidos e ordenou uma inspeção administrativa à "organização, meios e condições de intervenção" do laboratório na realização do ensaio clínico.
O departamento de saúde da Procuradoria de Paris abriu um inquérito e a agência francesa para medicamentos vai fazer uma inspeção técnica no laboratório.
Em uma mensagem divulgada na rede social Twitter, a Biotrial afirmou que o ensaio decorreu "de acordo com todas as regras internacionais" e que providenciou a transferência imediata das pessoas que começaram a manifestar sintomas para o hospital.
O acidente ocorreu na primeira fase do ensaio clínico, quando o medicamento é dado a pessoas saudáveis, conscientes dos riscos. Antes de ser utilizado em seres humanos, o tratamento, que se destinava a tratar perturbações de humor e ansiedade, foi testado em chimpanzés.
Milhares de pessoas participam todos os anos de ensaios clínicos na França. Muitos são estudantes que procuram ganhar dinheiro para pagar os estudos.
Embora raros, os acidentes com esse tipo de ensaio já ocorreram em outros países, como no Reino Unido, onde, em 2006, seis homens foram internados depois de serem submetidos a um novo tratamento contra a leucemia e outras doenças.
Em 2001, uma jovem americana de 24 anos morreu quando participava de um ensaio clínico de um medicamento experimental para a asma conduzido pela Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, nos Estados Unidos.
*Agência Estado