O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) recebeu de Geraldo Alckmin o encargo de testar a fosfoetanolamina em humanos. O plano é iniciar o estudo no primeiro trimestre de 2016, atingindo até mil doentes. À frente desse esforço está o diretor-clínico da instituição, Paulo Hoff, que se dedica ao desenvolvimento de fármacos há 20 anos.
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Por que o governo de São Paulo decidiu testar a fosfoetanolamina?
Há um interesse grande na população e muitas pessoas usando do produto, que não teve comprovação clínica. Ele apresentou resultados interessantes, promissores eu diria, nos testes pré-clínicos, aqueles feitos em culturas celulares e em animais. Mas não há ainda nenhuma publicação de resultados de tratamento em seres humanos. Com isso em vista, achamos interessante disponibilizar a estrutura do Instituto do Câncer para fazer esse tipo de estudo.
De onde partiu a iniciativa?
Os pesquisadores estiveram com o governador Geraldo Alkmin, que nos convidou a conversar. Oferecemos usar a estrutura do Estado para um estudo que determinasse a eficácia do produto ou não. O governador gostou e instruiu o instituto e a secretaria a envidar esforços. Temos uma equipe muito adiantada no desenho de um estudo clínico para avaliação preliminar da eficácia do produto.
Houve pressão popular para fazer isso?
Criou-se uma situação de bastante interesse pelo produto. O Instituto do Câncer não é diferente. Os pacientes, principalmente aqueles que não têm uma opção terapêutica adequada, eles realmente perguntam. A pressão existe. É importante ressaltar que, embora existam relatos de sucesso, não há neste momento nenhuma evidência que justitique o uso indiscriminado do produto. Sei que as pessoas querem ter acesso, mas a melhor maneira de atender à população é determinar se o produto é bom ou não.
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O estudo será com todos os tipos de câncer?
Embora se diga na mídia que isso trata qualquer tipo de câncer, sabemos que na realidade isso é muito complicado. Se você trata 20 pacientes com 20 tumores diferentes e ninguém responde, você pode chegar à conclusão de que o remédio não é bom, mas você não fez uma avaliação correta. Por isso, olhamos o que havia de dados pré-clínicos, olhamos o que havia de relatos na mídia, e escolhemos um grupo de tumores em que achamos que há mais probabilidade de que a medicação seja positiva.
Quais seriam esses tumores?
Prefiro não deixar uma falsa expectativa no ar.
A fosfoetanolamina está à altura do alarde que se fez em torno dela?
As informações foram passadas com vontade de ajudar, mas talvez tenham extrapolado um pouco o que seria normal. Fico preocupado de dizer isso, porque eu gostaria que o remédio funcionasse. Ficaria muito feliz se acontecesse. Mas não queremos passar uma falsa esperança, porque de cada 100 medicações que chegam a este estágio, de cinco a 10 no máximo se mostram benéficas no ser humano. As pessoas interpretam que estamos torcendo contra, mas não é isso. Nos anos 1990, acreditou-se que a endostatina e a angiostatina curariam todos os cânceres. Quando os estudos clínicos foram feitos, a medicação que curava 100% dos ratinhos não conseguiu ter a mesma atividade em seres humanos.
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Figuras proeminentes do meio médico dizem que investir na fosfo não se justifica e que há outras substâncias que mereceriam mais.
Cada um pode ter suas opiniões pessoais. Nós sabemos como está a situação do governo federal. Quando ele diz que vai aplicar R$ 10 milhões no desenvolvimento dessa medicação, significa que essa quantia será removida de outras pesquisas. Existem outras substâncias que são tão promissoras quanto a fostoetanolamina. É natural que pessoas que acreditam nelas se sintam prejudicadas, porque vão ter menos dinheiro para a pesquisa.
O clamor popular justifica o investimento?
Você precisa dar uma resposta ao clamor da sociedade. Veja, o governo representa o povo. Se a sociedade demanda essa resposta, é uma obrigação do governo responder, desde que seja razoável. Na situação que se formou, com milhares de pessoas tomando esse remédio ou procurando tomá-lo, você tinha duas opções: continuar só discutindo via mídia ou resolver a questão. É a sociedade que faz os nossos orçamentos. Então, se a sociedade faz o clamor, nós vamos responder.