Uma cirurgia de 11 horas, e a boa notícia: Mirian Lohman de Medeiros pode manter a esperança de viver como qualquer adolescente de 16 anos. Nesta terça-feira, no Instituto de Cardiologia de Porto Alegre, o procedimento para desobstruir as artérias pulmonares de coágulos foi um sucesso - e pode ter dado fim a uma rara doença que acometia a menina.
Cirurgia incomum tenta salvar menina de apenas 16 anos
Até a cirurgia, Mirian tinha um dos pulmões comprometido e precisava carregar um tubo de oxigênio o dia inteiro. Os médicos davam apenas dois anos de vida se nada fosse feito. A decisão pela operação veio em maio.
- A parte mais complicada, da cirurgia, foi muito bem. Agora vamos acompanhar de perto a recuperação - afirma a cardiologista do Instituto de Cardiologia e médica da adolescente, Gisela Meyer.
Mirian permanecia sedada na UTI até a noite desta terça-feira. Os médicos mostravam ânimo com a recuperação após as primeiras horas. A menina permanecerá na Unidade de Tratamento Intensivo por pelo menos uma semana, e, conforme os pulmões retomem a atividade, os médicos irão retirando as ventilações mecânicas.
A questão central é como esses órgãos vão reagir à irrigação de sangue novo - já que vêm recebendo pouco sangue há anos. A menina ficará uma semana na UTI em observação, e depois irá para o quarto de recuperação. Se tudo correr bem, em duas ou três semanas Mirian estará em casa, na zona rural de Bom Jesus (RS).
- Parece um sonho que a cirurgia finalmente foi feita e tudo deu certo. O trabalho dos médicos foi maravilhoso. Agora estamos nas mãos de Deus - diz a mãe Catia Alves Boeira, 34 anos.
Antes do alívio, houve tensão. A cirurgia foi de complexidade ímpar. O corpo foi resfriado para que todo o sangue fosse removido e colocado em uma máquina de circulação. Só assim se poderia chegar às artérias para retirar os coágulos.
No bloco cirúrgico, oito médicos e dois instrumentistas davam o seu melhor. O idioma que prevalecia era o inglês, já que o procedimento teve apoio de uma equipe americana, desembarcada em Porto Alegre especialmente para operar Mirian.
Por causa da gravidade do quadro, a mortalidade para esses procedimentos chega a 25%, 10 vezes mais do que a cirurgia de ponte de safena. Felizmente, Mirian entrou nos outros 75%. Após a remoção dos coágulos, o corpo foi reaquecido, e o sangue novamente voltou a circular.
- Só quero que ela volte para casa logo para fazer o que ela mais gosta: andar a cavalo e ir para a escola - disse a mãe.
A saúde frágil fez Mirian ter de abandonar o colégio no 7º ano do Ensino Fundamental e, também, a rotina de brincadeiras na Serra. Há sete anos, a jovem recebeu um diagnóstico pouco comum para alguém que tem apenas 16 anos: ela sofre de embolia pulmonar crônica (obstrução das artérias por coágulos) associada à hipertensão pulmonar (quando a pressão nas artérias dos pulmões é tão alta que prejudica o coração). Com o mínimo esforço, a deficiência respiratória faz com a adolescente desmaie. O controle da doença se dá por medicação e pelo uso constante de oxigênio suplementar.
- Mesmo que fique com algum resíduo de coágulo, a doença não voltará, e sem dúvidas a vida dela vai melhorar muito - diz a médica Gisela.