Nos próximos dias, técnicos do Laboratório Farmacêutico do Rio Grande do Sul (Lafergs), ligado à Secretaria Estadual de Saúde, vão dedicar suas pesquisas à análise da fosfoetanolamina, substância que está no centro de uma polêmica por ser publicizada como a "droga do câncer", embora não possua registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e passe longe de ser recomendada por parte dos oncologistas.
O convênio para pesquisar a fosfo foi assinado nesta quarta-feira entre governo do Estado e os criadores da substância, e prevê transferência de tecnologia para o Lafergs e o início das pesquisas com humanos - desde que aprovado previamente pela Anvisa.
- Se chegarmos à conclusão de que a fosfoetanolamina é segura e aplicável, iremos enviar à Anvisa os documentos para iniciar os testes clínicos - afirma Paulo Mayorga, diretor do Lafergs.
Caso a pesquisa indique que a substância é eficiente contra o câncer, poderá ser produzido maciçamente e distribuído pelo Lafergs - o que não tem prazo para ocorrer. Mayorga garante que não haverá investimento do Estado nesta etapa, que se restringirá à análise de dados.
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A polêmica da fosfoetanolamina no combate ao câncer
Ainda assim, especialistas criticam o governo gaúcho por dedicar esforços a estudar uma substância com poucos indícios científicos e sem pesquisa em nenhum outro país.
- É lamentável que o Estado deixe de apoiar pesquisas com medicamentos experimentais que já tenham mostrado que podem ser eficientes para pesquisar uma substância que não cumpre nenhum critério científico - afirma o chefe do Serviço de Oncologia do Hospital de Clínicas, Gilberto Schwartsmann.
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O trajeto da pesquisa da fosfoetanolamina é controverso. Começou a ser estudado no Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), onde foi patenteado em 2008. Ao tomarem conhecimento da substância publicizada como "a cura do câncer", muitos pacientes passaram a entrar na Justiça para ter acesso à droga, e em alguns casos têm recebido liminares favoráveis - são cinco pareceres favoráveis a gaúchos.
Diante do crescimento da demanda e pressionada pela falta de testes definitivos, a USP editou no ano passado uma portaria dizendo que só iria produzir o medicamento diante de autorização no Ministério da Saúde e da Anvisa, e lutaria contra as medidas Judiciais. Os pesquisadores passaram, então, a buscar local para prosseguir as pesquisas e iniciar produção em massa - e agora encontram reduto no Rio Grande do Sul, por mediação do deputado Estadual Marlon Santos (PDT).
- Alguns oncologistas criticam a fosfoetanolamina por que usam mecanismos quimioterápicos, enquanto propusemos o fosfolipídio antitumoral, sem danos ao organismo. Já há testes eficazes com ratos, cães e células humanas - afirma o biomédico Durvanei Augusto Maria, pesquisador do Instituto Butantan e um dos responsáveis pela pesquisa com fosfoetanolamina.