Até o momento, são conhecidos quatro casos de doentes gaúchos que obtiveram direito o acesso à fosfoetanolamina por meio da Justiça estadual. A moradora de Montenegro Maria Eliane da Mota Zanette, 53 anos, é uma delas. Vítima de um câncer de colo do útero que trata desde 2011, ela já passou por inúmeros sessões de quimio e radioterapia.
Opinião: A fosfoetanolamina e a indústria do desespero
A polêmica da fosfoetanolamina no combate ao câncer
Por que a senhora foi à Justiça para obter a fosfoetanolamina?
Eu recebi um vídeo de um primo, e aí me veio que eu tinha esse recurso. Falei com a doutora Magali (advogada) e ela disse que faria para mim, de forma gratuita. Porque estou em um momento em que já gastei muito. Fiz muitas e muitas radioterapias e quimioterapias. Entrei em julho no Mãe de Deus e fiquei 80 dias: um mês de tratamento e dois meses para recuperar o organismo. E não reduziu nada. Não reduziu nada.
Desde quando a senhora tem a doença?
Desde 2011 eu estou me tratando. Comecei no Moinhos de Vento. Fiz dois meses de radioterapía e seis quimioterapias. Aí passaram quatro anos sem nada, tudo ótimo. Então, em um curso de ioga que eu fiz, tive uma queda no último dia, quando estava recebendo o certificado, e isso me levou a um ortopedista. Ele detectou as metastáses. Comecei de novo. Fiz mais um ciclo de nove quimioterapias no Moinhos, depois resolvi trocar porque aumentou em vez de diminuir. Tinham aumentado os locais de câncer. Fui para o Mãe de Deus, recebi outro quimioterápico. E fiz também 21 radioterapias. Estou há um mês em casa. Faz pouco tempo que saí do hospital.
O tratamento chegou ao fim?
Não, não acabou. Tenho de retornar no dia 17, mas estou buscando avaliações de outros médicos, porque a quimio não está mais fazendo efeito, a radioterapia não está fazendo efeito.
Os médicos disseram que não é mais possível tratar?
Eles não dizem isso. Não dizem. Mas não está. Estou indo, indo, indo, fazendo, e estou me debilitando, e o câncer aumentando. E aí? Existe tratamento? Não tem.
Por isso a senhora decidiu tentar a fosfatoetanolamina?
Isso. Assisti vários depoimentos, fiz várias pesquisas e conversei no Mãe de Deus com um senhor que já está tomando, que conseguiu por liminar através de um advogado de São Paulo. O filho dele foi lá buscar.
A senhora acredita que a fosfoetanolamina possa ajudar?
Olha. Eu tenho esperança. E confio. Porque tem vários depoimentos. É algo que tem centenas e centenas de pessoas que já tomaram.
A senhora espera com ansiedade a chegada das cápsulas?
Demais. Essa é a minha esperança. Não que eu não acredite nos médicos. Eles estão me ajudando a estar viva até agora. Mas não está tendo avanço, sabe? Não está.
E como a senhora vê as críticas das entidades médicas a essas liberações da fosfoetanolamina?
Eles têm todo o direito de fazer, estão no papel deles. Mas nós, como pessoas, temos direito de escolher o tratamento. A Constituição dá esse direito. Por isso que estou pedindo o mais rápido possível. Eu sinto dores, fui internada por dor aguda, de não aguentar, de remédio nenhum parar.
A senhora não se preocupa com algum efeito negativo da fosfoetanolamina?
Como disse, eu conversei com um senhor de idade que já está usando. Ele não iria mentir. Ele falou que não sentia nada. Não vou deixar de fazer as quimios, mas vou tomar. Estou morrendo. Cada dia estou morrendo um pouco. Tem dias que não consigo sair da cama, de tanta dor. Estou muito debilitada. Eu acredito novo e nas pessoas que fizeram os depoimentos.