Autora do livro O Peso das Dietas, a nutricionista francesa naturalizada brasileira, Sophie Deram defende o fim do terrorismo nutricional e da busca por padrões e dietas restritivas. A doutora em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo avalia que saúde, infelizmente, foi simplificada a peso.
Confira a entrevista:
Qual a relação entre medidas e saúde?
A saúde, infelizmente, foi simplificada a peso. Isso leva a muito terrorismo, porque querer emagrecer coloca as pessoas em risco de engordar. Estudos conduzidos por pesquisadores de saúde pública americanos e ingleses mostram que pessoas, quando descobrem que estão com sobrepeso, tornam-se mais propensas a engordar devido ao estresse que isso gera. A pessoa vai tentar fechar a boca e, consequentemente, vai atrapalhar a relação que tem com o corpo e com a comida. Considero o peso uma consequência da saúde. Se alguém engorda, alguma coisa não está indo bem. Pode ser um desequilíbrio hormonal, um medicamento ou fatores psicológicos. Quando a saúde melhora, elevando o bem-estar, a pessoa emagrece e de maneira sustentável.
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Então, como devemos fazer essa associação? Quando ficar alerta a possíveis riscos para a saúde?
Quando há circunferência abdominal aumentada é um sinal de que a pessoa já não está com saúde. Mas, apenas pelo IMC, você assusta a pessoa, fazendo com que ela mude o jeito de viver a vida _ e isso foi comprovado e publicado no International Journal of Obesity. Fechar a boca não é uma conduta saudável. Não acho que o peso determine saúde, mas uma pessoa que engorda muito, especialmente na circunferência abdominal, deve ficar alerta. Há também pacientes que estão, pela definição, magros, mas podem ter uma saúde pior do que pessoas com sobrepeso, e ninguém vai falar nada porque eles estão nos padrões. Podemos avaliar que 30% dos obesos têm dados clínicos saudáveis, mas pode ser que eles piorem com o tempo. O IMC não é um indicador de saúde, mas quando esse índice aumenta muito rápido, é bom ficar de olho. O efeito sanfona também é um alerta, porque está relacionado a alterações metabólicas do corpo.
Qual é o caminho mais saudável para viver bem?
O problema é que, muitas vezes, a saúde é focada no peso, e as pessoas fazem dietas para emagrecer. O bem-estar e o prazer devem ser sinais de saúde. Sou muito a favor da conscientização do jeito de comer, voltar a ser o seu próprio dono e não deixar outra pessoa obrigar você a comer de um jeito adequado. Trabalho para que as pessoas façam as pazes com a comida. Esse é o caminho mais saudável. Quando se vive em dieta por anos, você não sabe se o que sente é fome, tristeza ou cansaço.