Quem não quer saber o que é preciso para ser feliz? A pergunta, tema do evento Com a Palavra promovido por ZH na noite de terça-feira, deixou o auditório do Centro Histórico-Cultural Santa Casa de Porto Alegre lotado para ver o que se propunha a debater e refletir sobre o assunto J.J. Camargo, cirurgião torácico e colunista do Caderno Vida.
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O encontro, mediado pelas jornalistas Jéssica Rebeca Weber e Lara Ely, marcou também o lançamento do mais novo livro do médico: Do Que Você Precisa para Ser Feliz?. Logo de início, Camargo acalmou (ou não) aqueles que ansiavam por respostas prontas:
- Se eu tivesse todas as fórmulas da felicidade, eu venderia elas - brincou com a plateia.
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Mas nem por isso ele deixou o público sem pistas sobre o tema e falou de algumas que considera fundamentais para uma reflexão sobre a busca pela felicidade:
- Tenho no máximo alguns atalhos, e um deles é de que há dois caminhos para ser feliz: trabalhando e amando. Depois de um tempo, aprendi que é mais fácil trocar de amor do que de trabalho. E que é impossível amar trabalhando mal, porque levamos para casa o ranço de um ofício que não gostamos.
Enfático, Camargo destacou que ter uma profissão que gere alegria é fundamental para ser feliz não apenas no âmbito profissional, mas, sim, em todos os aspectos da vida. Apesar disso, afirmou, não se deve buscar um ideal de ser feliz o tempo todo. Felicidade, disse o médico, é fatiada:
- Ninguém consegue ser feliz o tempo todo. Nosso humor tem oscilações. Eu, particularmente, sou desconfiado de pessoas que estão sempre felizes, faceiras.
Histórias médicas sob um viés humorístico
Entre risadas e histórias emocionantes de vida e da relação médico-paciente - tema recorrente nas crônicas veiculadas no caderno Vida - o médico questionou os estereótipos da felicidade, que mais levam as pessoas à tristeza do que à alegria.
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- Quando comecei a trabalhar com transplante, tinha um item na seleção que dizia "vontade de viver". O que tem de gente doida para morrer de causa natural e, com isso, escapar de uma vida que não teve condições de viver é deprimente. Aprendi que a equação é muito simples: tem de ter amor para dar e amor para receber. Sem isso, não tem o menor motivo para continuar vivendo - relatou.
Questionado sobre a relação entre felicidade e terceira idade, Camargo apontou a forma como a sociedade lida com os mais velhos:
- Acho que o jeito que os tratamos é no mínimo constrangedor. O principal para os velhos é conservar sua utilidade, e hoje só nos preocupamos em administrar esse público, onde vão viver, o que vão fazer. A liberdade individual é a primeira conquista de alguém em busca da felicidade, não podemos esquecer disso.
Ao final do debate, a plateia teve a possibilidade de fazer algumas perguntas para o médico. Ele falou sobre humildade e divertiu o público com histórias médicas, que, segundo ele, estão sempre recheadas de um viés humorístico. Afinal, é sempre preciso ver o lado bom de cada situação.
Leitor coleciona as crônicas de sábado
Antes de iniciar o evento, dezenas de pessoas fizeram fila para adquirir um exemplar do livro recém-lançado e pegar autógrafo do médico e escritor. Aguardando a sua vez para conhecer Camargo, o aposentado Leo Antonio Valmorbida, 78 anos, demonstrou sua admiração ao retirar de uma sacola os recortes das crônicas do jornal que o leitor coleciona:
- Além de um excelente médico e professor, ele é muito humano e suas crônicas são motivadoras, tanto para médicos quanto para pacientes. Por isso, todo sábado pego a crônica do jornal e guardo com as demais.
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Enquanto esperavam na fila para receber o autógrafo, muitos que já tinham um exemplar na mão não resistiram e aproveitaram para espiar os textos que compõem a obra. A advogada Eliane Amorin, 46 anos, afirmou que ansiava pelo exemplar daquele que, mesmo sem conhecer, considera um amigo:
- Ele fala sobre amor, dor e doença com uma linguagem que atinge a todos públicos.