Família: grupo de pessoas unidas por convicções, interesses ou origem comuns. Dos inúmeros significados que até mesmo o dicionário traz, esse foi o que mais veio ao encontro do que percebo ser o sentido de família.
Na semana passada, uma comissão especial na Câmara dos Deputados aprovou o texto principal do Estatuto da Família e nele a definiu como sendo a união entre um homem e uma mulher. Isso significa que o Estado só garantirá os direitos das pessoas que tiverem uma união estável heterossexual.
Pois a pergunta que não quer calar é: em cima do que foi feita essa configuração de família? De evidências, certamente não foi.
Em pleno século 21, quando é cada vez mais raro homem e mulher compartilharem uma vida inteira juntos, fica complicado entender: como uma lei pode representar uma categoria social tão diversificada, definindo-a de uma única maneira? Uma lei que segrega, exclui e desconsidera uma parcela enorme da população - homossexuais e parentes consanguíneos, por exemplo - não pode ser bem recebida, muito menos bem-sucedida. A impressão é a de que o Congresso Nacional não representa ninguém e que vive em um mundo à parte, onde o ideal - mesmo que ultrapassado - é que dita as regras.
Mas o que é família, então? Família é, acima de tudo, alicerce. É um conjunto de pessoas que compartilha de ideias, ideais, estilo de vida, sentimentos, rotinas. É gente que se dedica ao bem-estar comum, que luta junto, busca progredir, enfrenta, se apoia, se dedica, é parceira, cúmplice, porto seguro.
Conheço muitas famílias que não têm a menor noção da complexidade e da grandiosidade que essa definição traz. Família perfeita - para a Câmara - com pai, mãe e filhos, mas defeituosa no que diz respeito a sua principal função: suporte.
Amparo, auxílio, proteção, segurança, amor, atenção, união, estabilidade... Se tudo isso é dado por um homem e uma mulher, dois homens, duas mulheres, um homem, uma mulher, não importa. O que fará diferença é a existência, ou não, de todo esse aparato por trás daquele indivíduo em formação.
Família é quem nos acolhe, quem nos olha e realmente nos enxerga. A base de uma personalidade saudável, íntegra e bem resolvida é a forma como todas essas emoções são trabalhadas durante a formação do sujeito, e não o gênero ou a quantidade de pessoas que fazem parte do convívio.
Acredito que seja exatamente por isto que o mundo está se tornando um lugar cada vez mais hostil: as pessoas se preocupam mais em tolher o que lhes parece um erro e esquecem-se de que a adaptação às mudanças é indispensável ao progresso. Há muito que família deixou de ter a ver com sangue e descendência.
Para que tantos nós se, afinal, família é laço?