Conta-se que os que voltavam do espaço haviam experimentado sensações tão específicas, tão difíceis de explicar para outras pessoas, que se tornavam antissociais. Não conseguiam conversar com outras pessoas sobre assuntos triviais, nem detalhar a extraordinariedade da viagem à Lua. É o que a gente sente quando perguntam: "como é ter um filho?". Como explicar algo que não pode ser descrito, apenas sentido? Ter filhos é uma experiência absolutamente comum, e mesmo assim deslumbrante. Como explicar?
É mais ou menos como aquela sensação reconfortante de tomar um banho quente depois de um dia na praia. Como um cachorro brincalhão que suja a sua roupa antes do trabalho. É sua camiseta da sorte. É seu filme favorito passando hoje a noite na TV. Ter filhos é como uma conexão demorada no aeroporto com uma pessoa que você adora conversar. É como um veranico em agosto. É como tomar sorvete em um dia com vento. Como sentir que um gato está gostando do seu carinho. Como levar um gol do seu melhor amigo com um chute no ângulo aos 45 do segundo tempo.
Ter filhos é como sentir o cheiro do bolo que a sua avó fazia, eternamente. Como sentir que a pessoa por quem você está apaixonado pode ser que goste de você. É como um feriadão na cidade vazia. É como ganhar meias de aniversário da pessoa que você mais ama no mundo. Como uma apresentação da sua banda favorita em uma noite de chuva torrencial. Como alguém que finalmente lhe dá passagem no trânsito.
É como um doce caro que, depois que você experimenta, percebe que vale cada centavo. É como uma viagem de avião na classe econômica para as férias dos seus sonhos. Como um estranho que diz "bom dia" no meio de um dia estressante. Ter filhos é como uma avenida movimentada em que todos os sinais estão verdes. Como uma praia com ondas perfeitas que você descobriu anos atrás e continua deserta até hoje. É como uma lembrança engraçada de um amigo que está se despedindo para sempre.
Ter filhos é um pequeno desconforto que te lembra todos os dias do sentido da vida. Um sentimento que não se pode explicar, que não se pode entender. Só se pode viver.