É inevitável. Por gostar de atividade física e ter me deixado conhecer por essa característica, virei uma espécie de guia. Não, eu não saio dando dicas de treino, alimentação ou esporte. Tem gente capacitada para isso, e cada pessoa precisa ter um acompanhamento profissional que leve em conta seu histórico de vida e saúde - soa óbvio, eu sei, mas não custa lembrar.
Falo de quando amigos, familiares e conhecidos me interpelam para questões do tipo: "Como faz para cair da cama?" "Como se mantém a rotina?" "Explica para mim como tu não tem preguiça?" "Eu não consigo gostar de nenhum exercício. O que eu faço?"
Não existe uma fórmula mágica para começar uma atividade física e seguir em frente por uma vida inteira. E um dos motivos, segundo a americana Michelle Segar, diretora do Centro de Pesquisa e Policiamento de Esportes, Saúde e Atividade da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, é cair no erro de pensar que a motivação deve ser a causa, quando, na verdade, é o resultado. Autora do livro No Sweat: How the Simple Science of Motivation Can Bring You a Lifetime of Fitness (Sem Suor: Como a Simples Ciência da Motivação Pode Trazer uma Vida de Fitness, em tradução livre), Michelle se apoia em pesquisas que mostram que pensar em benefícios distantes, como melhora da saúde, prevenção de doenças, perda de peso e imagem corporal não é a melhor forma de criar adesão à prática física.
Com o tempo, acho que aprendi o que Michelle quer dizer. Claro que me faz bem saber que a corrida me ajuda a manter o peso, em forma e com um coração mais prevenido de sustos. A questão é que também tenho dificuldades de sair da cama para um treino de pista em um dia frio ou fico com vontade de ficar em casa vendo um seriado no final de semana em vez de fazer os treinos de longa distância.
Mas o que me faz escolher a corrida no lugar desses pequenos deleites, então? Eu tento pensar no que estou colhendo não tão lá adiante, mas bem ali na esquina. Já sei que o treino me dará um gás para enfrentar o dia, fará meu pensamento fluir com mais foco e me permitirá uma noite de sono melhor. Posso não estar com a maior vontade do mundo de treinar, mas quando eu faço essa escolha, descubro depois, quase sempre, que não estava errada.
É disso que Michelle fala em seu livro. Que normalmente as pessoas acabam em um "ciclo vicioso do fracasso". Começam uma rotina de exercícios físicos por motivos não tão palpáveis, como baixar colesterol e peso, ser mais saudável etc. Isso não quer dizer que não sejam razões importantes para se exercitar. O que Michelle quer ressaltar é que nos levam ao caminho do "deveria", "preciso", "sou obrigado".
No lugar disso, ela propõe o "ciclo sustentável do sucesso". A prática de atividade física começa por motivos como obter melhor humor, foco, energia, ou seja, de maneira geral, bem-estar. Depois, segue na linha do que se ganha em cuidar de si, como um "presente", sem pensar nisso como uma obrigação ou espécie de castigo.
Duas dicas importantes de No Sweat: 1) tudo pode contar. Não precisa se matar suando por mais de hora, diariamente. Subir a escada do prédio, ir a pé ao trabalho, levar o cachorro para passear são tarefas que podem ser somadas nas atividades físicas. 2) não tente mudar várias coisas de uma vez, como começar uma dieta, um exercício, um relaxamento. Escolha uma delas para começar e vá se adaptando.