Não estou aqui querendo que minhas filhas sejam maduras o suficiente para encerrarem brincadeiras de forma objetiva, nem mesmo pedindo para que aos três anos uma pessoa entenda que não há diversão sem alguém para pagar as contas. Mas, será que é muito difícil ensinar para crianças o conceito de "chega"? Porque, lá em casa, se começamos uma brincadeira, certamente ficarei preso em um vortex infinito de "de novo!".
Esses dias, sem querer, passei correndo por um quebra-molas. Na cadeirinha, minha filha gargalhou. E pediu: "De novo!". Se algo faz uma criança rir, ela irá pedir para repetir. Expliquei que era muito perigoso passar correndo por um quebra-mola em velocidade. E ela: "De novo! De novo!". Seu guarda, por favor, explique para a menina que não posso.
E quando, ao sair para trabalhar, resolvi fazer uma última brincadeira? Dei tchau, fechei a porta e, logo em seguida, abri novamente, gritando: "Buuuuuuuu!". Ela gargalhou. E ficou me olhando com aqueles olhinhos. "De novo!", pediu. Fiz uma, duas, três vezes. "De novo! De novo! De novo!". Quatro, cinco, seis vezes. "De novo!". Não há dia, agora, em que eu saia pela porta e ela não fique esperando minha volta.
Um amigo fez a festa de aniversário de cinco anos da filha. Com muito esforço, contratou duas meninas para aparecerem na festa vestidas de Frozen. Foi o dia mais feliz para a filha do sujeito. Agora, a pequena quer as princesas de Arendelle todo dia. "Onde estão elas, pai? Não gostam mais de mim? De novo! De novo! De novo!".
A paternidade tem esses momentos em que você prefere chegar atrasado ao trabalho em troca de umas risadinhas. Em que você tem de contratar as princesas de Frozen pelo menos uma vez por mês. Fazemos isso porque, no fundo, é uma espécie de pagamento. Para cada "de novo!", ouvimos "eu te amo!". E sabemos que irão crescer. Ficarão adolescentes. Nos dirão cada vez menos "de novo!". Irão viajar com os amigos, morarão longe. E, ao nos darem um beijo de despedida, olharemos para eles e diremos: "De novo!".