Hoje resolvi escrever sobre os pais e para os pais. Com meu pai, aprendi muitas coisas. Inclusive, a comer alguns alimentos. Lembro dele valorizando alguns que faziam parte da sua história, como um matambre com polenta, uma galinhada na panela de ferro e uma boa paleta de ovelha no forno ou no espeto. Aliás, muitas paletas de ovelha feitas em fogo de chão, que ele acordava às 6h da manhã para preparar!
Quando eu torcia o nariz para algum alimento, ele insistia que provasse me dizendo que aquilo era "coisa boa".
Almoçávamos sempre todos juntos à mesa. Quando era pequena, sentava à frente dele e, quando eu não queria comer legumes, ele colocava uma pequena porção no meu prato e dizia que eu tinha de provar.
Melancia, que minha mãe odeia, ele fazia questão de cortar em cima de uma mesa, na maior farofada, e reunir todos à volta, apenas com facas na mão, devorando cada fatia. Obviamente, com aquele caldo escorrendo e minha mãe furiosa.
Inclusive, até hoje ficamos aguardando os gomos de laranja que ele descasca para ele, mas compartilha com quem estiver na volta. Compartilhar fruta é com ele mesmo.
E, assim, fui "pegando gosto".
Em uma determinada situação, ele trabalhou em obras de uma rede de fast food, onde, na fase de testes dos equipamentos, tendo os lanches e refrigerantes liberados para consumo, dizia que não comia pois aquilo tinha gosto de nada. E seguia trabalhando, bebendo água. Ele gosta de comida de verdade, de preferência sem frescuras.
Essas lembranças me fazem pensar no papel dos pais na educação nutricional de seus filhos. O que os pais incentivam seus filhos a comer hoje em dia? Qual o momento do dia em que compartilham uma fruta?
Muitas vezes, esse papel fica com as mães. Mas quem disse que essa responsabilidade não pode ser dividida com os pais? Sem baixar decreto, apenas pelo exemplo e pela admiração.
Se a figura paterna fica ligada apenas a churrasco, álcool e lanches, o que se espera que os filhos aprendam?
Em meio a toda essa comida campeira, aprendi que tudo pode com moderação, mas que o saudável tem de estar na rotina. Aprendi que comida boa é aquela que se faz com ingredientes de verdade e, se possível, na companhia de familiares ou amigos.
Aos pais, saibam que ensinam mais do que imaginam, mesmo quando não percebem.
Aos filhos, aprendam tudo de bom que eles têm para ser admirado, eles podem contribuir muito onde nem imaginam que estão dando exemplo. Inclusive, na nossa saúde.
Ao Nelson, obrigada por mais essa lição!