Mensagens como "você é muito feia" e "por que você ainda vive?", recebidas por uma menina de 11 anos em sua rede social, resultaram em suicídio. Essa história espantou Trisha Prabhu, de 14 anos, que não imaginava o impacto que esse tipo de humilhação poderia ter na vida de uma adolescente. A fim de reverter essa alta incidência - um a cada três jovens sofre ameaças online -, a estudante desenvolveu o Rethink (repensar). O software, como a própria tradução sugere, induz o jovem a pensar duas vezes antes de agir, no caso, publicar algo ofensivo.
"Eu usei as minhas habilidades em ciência e tecnologia para prevenir o cyberbullying antes de ele ocorrer. Depois de muita pesquisa, percebi que um sistema capaz de fazer o jovem pensar e rever suas mensagens seria mais eficaz do que se eles não tivessem uma segunda chance", afirma Trisha, ao descrever sua iniciativa no site do projeto, finalista da Feira de Ciências do Google, que irá divulgar os vencedores em setembro.
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O sistema emite um alerta aos usuários quando o conteúdo que pretendem postar tem teor ofensivo. Segundo a estudante, o método também se sustentou na descoberta de que a área do cérebro que controla o raciocínio e a tomada de decisões (córtex pré-frontal) se desenvolve após os 25 anos. Isso pode explicar por que os jovens são 40% mais propensos a agir por impulso nas redes sociais, conclusão de uma pesquisa feita pela estudante para um trabalho da escola.
Para testar sua ideia, a americana de 14 anos desenvolveu dois aplicativos e os testou com 1,5 mil alunos entre 12 e 18 anos de Naperville, nos Estados Unidos. Um deles mostrava aos internautas mensagens agressivas e perguntava se eles as publicariam nas redes sociais, já o Rethink exibia as mesmas mensagens e ainda emitia um alerta caso a resposta do usuário fosse "sim". Cerca de 93% dos adolescentes desistiram da publicação após receber o sinal vermelho, em comparação àqueles que não usaram o Rethink.
As conclusões estimularam a estudante a dar um passo a mais com seu projeto. Agora, Trisha planeja desenvolver um produto em grande escala para redes sociais, sites e aplicativos.
A estudante diz que já existem métodos contra o cyberbullying hoje em dia, mas todos bloqueiam as mensagens ofensivas já publicadas. Diferentemente, a ideia do Rethink é filtrar o conteúdo das mensagens e impedir que esse tipo de conteúdo chegue a ser publicado.
- Quero acabar com o bullying virtual em sua origem, antes que ele cause o mal - disse Trisha durante sua palestra no TEDxTeen.
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Fascinada por ciências comportamentais - como descreve em sua biografia no site -, Trisha conta que começou a desenvolver o gosto pela área aos seis anos, quando ganhou um livro que discute como os perigos do aquecimento global impactam a vida das pessoas. A estudante, que pretende se tornar uma neurocientista e passar a vida desvendando os segredos do cérebro, também sonha em projetar um carro que possa ser manuseado no ar e na água.
"Vencer, para mim, significa mais do que apenas prêmios", acrescenta a adolescente.
O cyberbullying é caracterizado pelo ato de atormentar, assediar ou envergonhar usuários por meio de ferramentas online e mídias sociais. De forma geral, vítimas psicologicamente afetadas pelas ofensas tendem a desenvolver depressão e baixa autoestima.
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