A experiência de percorrer e filmar em zonas de guerra está na origem do livro Além do Perdão: Reflexões sobre Atonement, que o norte-americano Phil Cousineau está lançando no Brasil. A obra reúne ensaios e entrevistas com especialistas e personalidades. Cousineau concedeu entrevista ao caderno Vida:
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Quem não perdoa faz mal a si próprio?
Sim. Essa é uma crença universal e uma verdade psicológica. Os chineses dizem que quem se entrega à vingança deve cavar duas sepulturas. Quem não perdoa fica amargo, raivoso, ressentido e morre por dentro ao poucos. Como disse Desmond Tutu (prêmio Nobel da Paz em 1984 pela luta contra o Apartheid), não há futuro sem perdão. Isso não significa concordar com as atitudes erradas, mas tentar entendê-las, pô-las em contexto e tornar o futuro possível.
O que significa cura, no contexto do perdão?
Não existe cura sem perdão, seja no casamento, no trabalho ou em grandes conflitos. A cura começa com o perdão e é selada e garantida com alguma forma de restituição. Em caso contrário, ficaríamos presos a círculos de violência que se perpetuariam gerações afora.
Sempre é possível perdoar?
Nem sempre. Somos humanos. Mas como Jerry Needleman diz em meu livro, você aprende a odiar a atitude, como os terríveis horrores nazistas, e então perdoa o opressor, que frequentemente foi forçado a praticá-la. E dessa forma você segue adiante. Não estou dizendo que é fácil. Por outro lado, se foi você que agiu errado, você pede perdão e se oferece para fazer reparações. Se tiver uma recusa, também pode seguir adiante. Você tentou.
A vítima pode perdoar se o agressor não se arrependeu?
Essa é a situação mais difícil. Muitos criminosos reincidentes pedem perdão e depois não mostram qualquer remorso. Eles só querem ser desculpados. É preciso analisar caso a caso. Ainda assim, mesmo que o opressor seja insincero ou pior do que isso, a vítima poderá ser uma vítima para sempre se não houver perdão.
O perdão é mais importante para quem perdoa ou para quem é perdoado?
Não acredito que deva ser mais importante para uma das partes. Pode ser para as duas igualmente. Se isso não for possível, o importante é perguntar-se - seja vítima ou agressor - como certificar-se de que é possível seguir com a vida.
Que papel a reparação tem em um processo de perdão?
No meu livro, entrevistei e reuni ensaios de 15 pessoas que se destacaram em processos de paz. O que eles têm em comum é a crença de que o perdão, sozinho, por mais nobre que seja, nunca é suficiente para uma reconciliação duradoura. O perdão é o primeiro passo, mas a reparação, a restituição, é o necessário segundo passo, seja em um relacionamento privado, nos crimes passionais ou em grandes conflitos. A reconciliação exige alguma forma de reparação.
Livro Além do Perdão: Reflexões sobre Atonement
Barany Editora
272 páginas
R$ 17
*Zero Hora