E se fosse possível interromper ou até mesmo reverter o envelhecimento? Uma descoberta publicada no final de abril na prestigiada revista Science abriu uma portinhola para essa possibilidade digna da ficção científica mais descabelada. Na publicação, um grupo de cientistas dos Estados Unidos, da Espanha e da China afirma ter desvendado o mecanismo central do processo.
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O principal autor da pesquisa, Juan Carlos Izpisua Belmonte, do Instituto Salk, afirmou a Zero Hora que o sonho é possível:
- Identificamos o motor do envelhecimento. Por meio do desenvolvimento de novas ferramentas, poderemos ser capazes de corrigir as alterações observadas durante o processo, de forma a desacelerá-lo ou revertê-lo.
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Izpisua explica que estava investigando as causas da síndrome de Werner, uma desordem genética que faz as pessoas envelhecerem em ritmo acelerado e morrerem precocemente. Esses pacientes apresentam problema em um gene específico. Para entender como essa alteração agia, os cientistas tiveram a ideia de retirar o mesmo gene de células-tronco. Quando fizeram isso, verificaram que as células envelheciam em alta velocidade.
- A síndrome de Werner resume muitas características do envelhecimento normal. Os cientistas a estudam para entendê-la melhor e também para tentar desvendar como é o processo normal. Para nossa surpresa, descobrimos que o gene mutado estava interagindo com proteínas e interferindo na manutenção da heterocromatina (um feixe denso de DNA nas células). Essas alterações levavam ao envelhecimento. Essas mesmas alterações ocorreram em células-tronco adultas, reforçando a relevância da nossa descoberta para o processo normal de envelhecimento.
Segundo o estudo, mexer no gene desestabilizou o feixe de DNA, impedindo as funções normais das células e promovendo seu envelhecimento prematuro. Estabilizar o feixe seria a chave para brecar ou mesmo reverter o processo, mantendo as células jovens.
O próximo passo da pesquisa, afirma Izpisua, é desenvolver técnicas que permitam alterar, com segurança, o gene de Werner em pessoas, e não apenas em uma cultura de células.
- Temos ainda de verificar a relevância dessas descobertas não só nos tipos específicos de células que pesquisamos, mas em todos. Além disso, são necessários estudos com animais para avaliar o papel do mecanismo que identificamos no envelhecimento celular e do organismo - disse o cientista.