Considero um desafio escrever sobre nutrição sem saber para quem escrevo. Acostumei-me a coletar informações antes de fazer qualquer recomendação alimentar e, exatamente por isso, sou avessa a generalizações.
Não posso recomendar aqui que indivíduos devem reduzir sal ou glúten ou qualquer outro alimento, assim como não posso dizer que bananas fazem bem a todos, pois alguém alérgico a banana pode passar mal.
Quem acompanha a coluna sabe que minha maior preocupação não é o valor calórico dos alimentos, mas a qualidade. Porém, cada vez mais penso em quem vai receber a comida, ou melhor, em que condições está o organismo de quem vai receber.
Ter uma aparência saudável ou estar livre de uma doença no momento não é garantia de que tudo está bem. Fazer um check-up médico, com avaliação de colesterol, glicose, enzimas do fígado etc. pode lhe dizer que você não está doente, mas não diz se você está bem nutrido. Para isso, precisamos, por exemplo, avaliar alguns nutrientes, bem como sintomas que indicam deficiências nutricionais.
A falta da vitamina D ou B12 ou outras pode acarretar problemas no futuro. Assim como não podemos deixar um paciente anêmico, não podemos ser negligentes com qualquer outro nutriente, nem estimular o consumo de vitaminas ou polivitamínicos sem necessidade.
O fato de um jovem ser aparentemente saudável, frequentar academia, correr, não significa bom estado nutricional. Pela história do paciente, podemos suspeitar de muitas intercorrências no organismo, desde uma má digestão, funcionamento alterado de algum órgão etc. Não fazemos diagnósticos, mas podemos suspeitar de algo que deva ser avaliado. Pequenos problemas podem evoluir para doenças graves.
Por isso é tão difícil responder àquelas perguntinhas de corredor. Posso tomar café depois do almoço? Tem algum problema se eu usar suplemento na academia? Devo parar de comer carne vermelha? Devo parar de consumir lactose? A resposta é: não sabemos, nem se o indivíduo estiver diante dos nossos olhos, pois quem vê cara não consegue identificar o que ocorre com o metabolismo.
Há muito tempo a nutrição deixou de calcular calorias, entregar o plano alimentar e achar que está tudo certo. Assim como devemos ter o cuidado de não generalizar, afinal, quem disse que tapioca faz bem a todo mundo? Aliás, para quem é a indicação mesmo?
Leia todas as colunas de Lenice Carvalho no caderno Vida
No prato
Lenice Zarth Carvalho: os riscos da generalização
A colunista escreve mensalmente no caderno Vida
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: