Levar a vida adiante amando a vida que se leva. Se há um conselho que ficou da conversa promovida por Zero Hora entre o cirurgião torácico J.J. Camargo, o cardiologista e internista Carlos Grossman e o geriatra Yukio Moriguchi, ele poderia ser resumido assim: seja lá que tipo de velho você for, não se deixe envelhecer. O primeiro passo para virar "um velho" é se tornar descartável, deixar de produzir.
O auditório repleto do Centro Histórico-Cultural Santa Casa viu formas distintas de encarar a receita para a longevidade. Moriguchi, metódico como se imagina que descendentes de japoneses (como ele) são, logo na primeira oportunidade de falar, listou tudo que pensa, baseado em regras e estatísticas que, aos 89 anos, carrega consigo na ponta do lápis.
- Duas coisas não caem do céu, dinheiro e saúde. É preciso sacrifício e suor - afirmou.
A conversa, que havia partido para dicas dolorosas de ouvir, como a omissão de carne, açúcar, sal e gordura, retomou o bom-humor quando o geriatra falou de álcool. Para ele, a bebida pode ser um remédio, se forem 30 mililítros para homens e 15 mililítros para mulheres. Mais do que isso, um veneno.
- Mas é por dia e não por hora! - brincou Moriguchi.
Espirituosos e, acima de tudo, com muita experiência na área médica, o trio, cada um ao seu estilo, concordou em um aspecto: o mais importante é não se sentir velho. Com a mesma idade de Moriguchi, Grossman foi perguntado: "o senhor fazia exercício?"
- Nunca.
"Nem caminhada?"
- Neca pau.
Mais tarde, a questão era como fazer para manter a mente saudável à medida que a idade avança. Saiu-se assim:
- É só se divertir bastante.
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Mais ponderado quanto a receitas pré-determinadas, Camargo lembrou que a preocupação com a saúde também pode ser uma doença e que a predisposição é relevante, mas as causas das doenças são multifatoriais. Lembrou da desilusão de Luis Fernando Veríssimo ao saber que o colesterol não era, assim, tão vilão: o escritor costuma dizer que perdeu 15 anos de gemas moles escoradas no arroz. E de uma pesquisa da universidade de Stanford, que colocou em apenas 10% a participação médica no aumento da expectativa de vida.
Outros 20% são ditados pelo ambiente, 17% pela genética, enquanto 53% ficam sob responsabilidade da gestão do prazer e da felicidade.
- Não estamos sabendo preparar o velho para que ele se sinta ativo e digno. Se mantivermos as curvas de sobrevida, de cada três pessoas nascidas nessa década, duas deverão viver 120 anos. E não se fez nada para preservar a atividade cerebral intacta até essa idade - disse.
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O debate faz parte de uma série de discussões que se seguem à divulgação do resultado mais recente do Índice de Desenvolvimento Estadual - Rio Grande do Sul (iRS), desenvolvido em parceria por Zero Hora e PUCRS, com apoio institucional da Celulose Riograndense. Lançado em 2014, o índice mede o desempenho de todos os Estados e do Distrito Federal em três dimensões: padrão de vida, educação e, reunidos, longevidade e segurança - esse, por meio das variáveis do índice de mortalidade infantil, taxa de homicídios e mortalidade no transporte (trânsito), que tem elevada correlação com a longevidade, segundo o economista Ely José de Mattos, professor da Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia (Face-PUCRS), coordenador do iRS.
Com a ideia de que seja um indicador de desenvolvimento humano, com foco nas pessoas, e não em instituições e no poder público, o iRS tem como meta traduzir a realidade de quem vive no Estado, para debater a melhor forma de alcançar maior qualidade de vida.