Você já teve a sensação de conhecer uma palavra, um conceito, uma pessoa e, de repente, esse significado começar a persegui-lo? Está naquele livro, daqui a pouco reaparece na timeline de alguém, depois num outdoor. A última vez me aconteceu com a Comrades, quando eu fazia uma reportagem sobre ultramaratonistas. Pesquisei sobre a famosa prova, que ocorre na África do Sul, e descobri que ela é como um batizado dos corredores de longas distâncias. Pelos dias e semanas seguintes, acontecia de alguém citar e eu ficar cada vez mais curiosa.
Neste ano, a Comrades chegou a sua 90ª edição, em 31 de maio. Uma das características mais marcantes da prova é que o percurso é alternado. Um ano, desce de Pietermaritzburg rumo a Durban, ao nível do mar. No outro - caso de 2015 -, sobe no sentido inverso, em mais de 600 metros de altitude. A distância também alterna: 89km e 87km.
É uma prova com muitas histórias de origem. A mais legal é sobre camaradagem. Vic Clapham, um inglês veterano da Primeira Guerra, que lutou em uma colônia alemã na África do Sul, queria homenagear os soldados mortos em batalha. Ele morava em Pietermaritzburg, cidade no alto da montanha, e chamou os amigos para correr até Durban. E começou a ir atrás do ideal de consolidar o trajeto como uma corrida oficial, conseguindo o feito em 1921. Desde então, com pausa apenas no período da Segunda Guerra, a prova ocorre até hoje. Para participar, os requisitos de qualificação são menos exigentes do que se poderia imaginar: ter corrido uma maratona abaixo de cinco horas no ano anterior.
Também me encantou o que a organização institui para manter um público cativo da grande festa: ganhar um número de prova para chamar de seu em todas as próximas edições, batizado de green number. Como consegui-lo? Ao vencer três vezes, ao obter cinco medalhas de ouro (os 10 primeiros colocados ganham) ou ao completar 10 provas. Em 2015, a sul-mato-grossense Ana Márcia Borges Gomes, 46 anos, não apenas perpetuou o número de peito, como foi a primeira mulher da América do Sul a receber a honraria, fechando 10 participações. A última em um tempo de 10h27min34seg. O engenheiro paulista Nato Amaral foi o primeiro sul-americano a ganhar o número em 2011. O feito de Ana Márcia confirma o aumento do interesse dos brasileiros pela prova. Foram 88 inscritos em 2015, entre 23 mil atletas de 60 países. Há uma década, dificilmente somavam 10 participantes do Brasil.
Buenas, depois de apresentar a Comrades para quem ainda não conhecia, espero que ela passe a "perseguir" as pessoas por aí. E a conquistar cada vez mais corredores.