Caderno Vida realiza série de reportagens sobre os transtornos mais comuns da infância e da adolescência. Na edição desta semana, o tema é a anorexia. Leia o relato da mãe de uma adolescente que foi diagnosticada com o distúrbio há mais de um ano:
Saiba como a anorexia se manifesta em crianças e adolescentes
"Quando era pequena, Fernanda* adorava comer carboidratos. Massas, pizzas e arroz estavam entre os alimentos preferidos dela. Eu, preocupada com a sua saúde, tentava introduzir também alguns vegetais, que não eram bem-vindos. Mas nada preocupante, já que a Fernanda era saudável. Quando me separei do meu marido, as coisas começaram a mudar. Ela tinha nove anos na época, e passou a ficar mais na companhia da avó. Doces, que ela até então não comia muito, começaram a fazer parte do cardápio. Às vezes, a Fernanda comia uma lata de leite condensado com chocolate durante a tarde e, nesse período, ela engordou um pouco. Quando tinha uns 12 ou 13 anos, levamos a Fernanda a um médico que disse que ela estava um pouco acima do peso. A partir daí, ela começou a mudar de comportamento sem que eu percebesse. Eu chegava em casa e a porta do quarto dela estava trancada porque ela ficava fazendo exercícios sem parar. Como eu não a acompanhava no almoço, porque eu estava trabalhando, não sabia o quanto ela comia, mas percebi que sobrava muita comida na geladeira. À noite, ela quase não se alimentava. E a perda de peso começou a aparecer. Neste verão, a Fernanda estava muito, mas muito magra. Era horrível ver ela de biquíni, só carne e osso. Uma cena que chegava a assustar. Ela não me contava, mas depois descobri que, nesse período, a Fernanda também começou a passar mal pela falta de comida. Ficava tonta cada vez que se levantava, não conseguia caminhar direito porque não tinha força. Medindo 1m57cm, ela chegou a pesar menos de 35kg. E, com a perda de peso, começou a ficar muito mal-humorada, irritada. Parou de se relacionar direito comigo e com a irmã dela, dizia que nos odiava. Cheguei a temer pelo pior em relação à saúde da minha filha. Fiquei realmente muito aflita, desesperada.
Foi quando decidi procurar ajuda. Hoje, sei que o que levou a Fernanda a parar de comer foi um conjunto de fatores. Foi uma forma de ela manifestar as insatisfações com a separação dos pais, os problemas de relacionamento com os meninos, o fato de estar se achando gorda. Quando buscamos ajuda e a médica disse que ela estava com anorexia, eu não quis acreditar. A gente nunca acha que isso vai acontecer com nossa família. Chorei tanto, porque ela não queria se tratar. Mas, aos poucos, foi aceitando. Só que o tratamento não é fácil. Como o estômago dela já estava muito pequeno, ela passava mal quando comia. Tivemos, e ainda temos, de reintroduzir os alimentos bem lentamente. Há mais de um ano, ela está nesse tratamento, aumentando aos poucos o peso."
* A pedido da família, o nome é fictício.
Conheça os sinais da anorexia, tratamentos e saiba o que fazer
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