Há algum tempo, o excesso do uso da tecnologia - mais especificamente do entretenimento pelo mundo da internet, dos aplicativos e dos jogos eletrônicos - vem sendo tema constante de conversas entre os pais. É visível que o fato prejudica a diversão, o lazer, a saúde e, principalmente, o convívio entre crianças e famílias. Concorda?
Em 2014, um artigo de Nick Bolton para o The New York Times alertou o mundo: "Steve Jobs era um pai low tech". A matéria revelava que o mentor da Apple limitava o uso de dispositivos tecnológicos dentro de sua casa. O jornalista, que entrevistou Jobs em 2010 logo após o lançamento do primeiro iPad, ficou perplexo ao descobrir que os filhos de Steve Jobs não conheciam o novo "brinquedinho" que fazia sucesso no mundo inteiro. O texto também apresentava a opinião de outros renomados executivos da área da tecnologia que seguiam a mesma linha de controlar com rigor o uso dos aparelhos eletrônicos de seus filhos.
De qualquer forma, não é preciso ser mestre em informática para perceber que algo está errado quando muitos amiguinhos do seu filho chegam na sua casa para brincar com um iPad embaixo do braço. Ou quando grande parte do tempo livre está sendo aproveitada à frente de uma tela. Aliás, entre a turma dos meus filhos, sou conhecida como aquela tia chata que não deixa a gurizada utilizar livremente seus aparelhos. Busco (e não é tarefa fácil, já que me considero uma refém da conectividade) o equilíbrio quando o assunto é tecnologia, afinal, nem sempre ela é a grande vilã. Muitas vezes, facilita o acesso à informação e oferece boas ferramentas de aprendizado. Sem falar que é graças a ela que consigo trabalhar mais em casa perto dos meus filhos. O complicado é encontrar a medida certa.
Semana passada, uma amiga me enviou um link de uma palestra do TEDx Laçador, que ocorreu recentemente em Porto Alegre. Foi como receber mais um alerta, um puxão de orelha. No vídeo de 22 minutos, o pediatra Daniel Becker expõe de forma exemplar alguns pecados sérios que a nossa sociedade anda cometendo contra a infância. E advinha? Sim, um dos pecados é o confinamento que oferecemos aos nossos filhos em uma distração permanente por meio da televisão e dos tablets. Mestre em Saúde Pública, Becker afirma que, dessa forma, estamos impedindo o livre brincar e os momentos de vazio. O tédio é fundamental para despertar a criatividade e a imaginação em uma criança.
Por fim, Becker propõe no vídeo uma excelente reflexão e uma solução simples de mudança no hábito das famílias com a qual, particularmente, concordo: recomenda aos pais que dediquem mais tempo tanto ao convívio familiar quanto àquele com a natureza. É preciso pular o muro, fugir do sofá, ocupar os espaços públicos e abertos. Esse contato com a natureza é o que afasta nossos filhos dos eletrônicos, proporcionando o bem-estar e uma infância saudável. Não tem sinal de wi-fi? Que bom. É sinal de natureza e de boas lembranças na memória afetiva dos nossos filhos. Fica o convite para aproveitar a folga ou as férias escolares de julho desligando as telinhas. E nós, pais e exemplos da casa, os celulares. Concordo, é difícil, mas recompensador.