Já ouviu falar do restaurante Dodô, no Morro da Borússia, em Osório? Nossa primeira vez lá foi em 2013 em pleno domingo de sol. Aliás, a nossa e a de boa parte de quem dirigia pela BR-101, pois a fila de espera do restaurante era de mais de uma hora. Com crianças a bordo, fomos obrigados a abortar a missão e acabamos retornando no final desse veraneio. Dessa vez, num sábado de chuva, o que garantiu a nossa mesa em instantes.
Grande parte dos visitantes sobe de carro o Morro da Borússia - com acesso fácil e asfaltado - em busca do visual panorâmico privilegiado do nosso Litoral Norte. No local, há uma plataforma de onde é possível ver o parque eólico, as lagoas e as praias mais próximas, como Tramandaí. Aviso: segure firme a mão das crianças se for caminhar pelo mirante e admirar os corajosos que pulam de asa-delta. Para quem quiser explorar a vizinhança, a dica são as cascatas da propriedade da família Bertoli, onde há pracinha e churrasqueiras. No nosso caso, as cascatas e trilhas ficaram para o próximo verão. O assunto por lá era finalmente descobrir o motivo da fama e da fila do almoço em frente ao restaurante de Claudiomir Dias Silveira, vulgo "Dodô".
Na entrada da casa, uma Monareta Monark intacta se destaca entre produtos coloniais, pães e cucas do mercadinho. Muitos param para admirar suas lembranças de infância diante da bicicleta e da decoração do amplo restaurante que tem quatro ambientes repletos de recordações por todos os cantos. A gente até esquece a fome e começa a invadir a mesa do vizinho com nossos olhares curiosos e saudosos. Há vinis antigos, rádios, livros, fliperama, máquinas de escrever e de costura. Impossível passar incólume à capa do disco do Menudo. Carrinhos, brinquedos, bolinhas de gude, bodoque e uma prateleira com jogos do tempo do Êpa e do Ariri Pistola. Tem de tudo um muito, e de várias décadas - principalmente dos anos 70. Até o banheiro ganhou um aparelho de fax antigo exposto na porta de entrada.
E são os pais que acham graça em tudo e se empolgam mostrando para as crianças os objetos e jogos que faziam parte da sua época. É o playground dos adultos. Tudo aquilo que não conseguimos guardar ou levar conosco, seu Dodô conservou para contar a nossa história aos filhos. Seu restaurante é um museu de muitas infâncias.
Para conhecer a figura simpática do seu Dodô, basta dar um pulinho ao forno a lenha ao lado do bufê. Ele faz questão de servir pessoalmente aos seus clientes o café coado na hora ou chá na caneca esmaltada. Conversa com todos e me aponta o cesto de vime e detalhes da decoração que deram início à coleção. "Ganho muitos objetos antigos dos meus clientes e amigos", revelou-me Dodô. Segundo o proprietário, a ideia não é só sentar e comer. É, também, aproveitar para se divertir com a família na mesa de sinuca, nos jogos de tabuleiro, no cantinho com jukebox retrô ou mesmo deitado na rede. O restaurante ainda oferece empréstimo gratuito de bicicletas (com cadeirinha para crianças) para quem quiser dar uma volta pela região.
Já me aproximo do final do texto e ainda nem comentei sobre a comida, apenas uma coadjuvante diante de tantas emoções para comer com os olhos e o coração. O bufê do almoço serve uma variedade de saladas e pratos caseiros como a carne de panela e a galinha caipira. O carro-chefe é a panela de ferro servida à mesa com uma respeitável linguiça com queijo derretido. A mesa de sobremesas também resgata sabores da infância com o sorvete de maria mole na casquinha (lembra?).
Alimentamos boas lembranças e partimos felizes. O Dodô serve a legítima comfort food. Só que o segredo não está no tempero, mas nas sensações que desperta por meio da nossa memória. Bom saber que tem alguém guardando com carinho tudo isso.