Escolha dolorosa, a remoção dos ovários - como a praticada pela atriz Angelina Jolie - é recomendada pela comunidade médica tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, pois reduziria consideravelmente o risco de câncer em mulheres geneticamente suscetíveis, segundo especialistas.
Portadora da mutação genética BRCA1, que predispõe ao câncer de mama e de ovário, a estrela americana disse nesta terça-feira que foi submetida à remoção dos ovários e das trompas de Falópio, quase dois anos após a remoção das mamas. Essa intervenção parece ser a continuação lógica da dupla mastectomia feita pela atriz, operação que desencadeou uma ida maciça de mulheres aos consultórios em busca de possíveis mutações genéticas.
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Enquanto há 15 ou 20 anos a questão da utilidade de remover órgãos saudáveis ainda era questionada, agora existe um amplo consenso entre os especialistas para recomendar a remoção dos ovários e trompas de Falópio em mulheres portadoras de mutações BRCA1 e BRCA2, explica a especialista francesa Dominique Stoppa-Lyonnet.
A presença dessas mutações é acompanhada de um risco muito elevado de um dia vir a desenvolver câncer de mama ou de ovário, ressalta a médica, que dirige o serviço de genética do câncer do Instituto Curie, em Paris.
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- O risco de câncer de ovário acumulado aos 70 anos para uma mulher que carrega a mutação BRCA1 é de cerca de 40%. E de 20% para portadores da BRCA2, contra 1,5% para a população em geral - afirma Dominique.
O professor sueco Per Hall, especialista em câncer de mama do Karolinska Institutet de Estocolmo, também recomendaria a uma mulher portadora dessa mutação que se submetesse à remoção preventiva, pois ela reduz consideravelmente o risco de câncer, segundo o especialista.
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A ovariectomia também tornou-se uma operação muito comum nos Estados Unidos em mulheres após a menopausa, incluindo as que não são portadoras de mutações BRCA, apenas para reduzir o risco de câncer de ovário, de acordo com Hall. Isso porque, ao contrário do câncer de mama, esse tipo de tumor é considerado silencioso e muito difícil de detectar, com sinais clínicos fracos e pouco característicos, como leves dores no ventre, explica Hall.
Menopausa precoce
Apesar de uma paciente de risco pode realizar um controle regular com ecografias, o exame não é confiável o suficiente para permitir a detecção precoce de tumores.
- Um diagnóstico precoce não é garantido - disse Dominique.
Os médicos também recomendam a retirada dos ovários e trompas de Falópio nas mulheres com a mutação BRCA1 a partir dos 40 anos e até os 50 anos para aquelas que carregam a mutação BRCA2. Uma alta proporção dessas mulheres aceitam a operação, que é simples, descomplicada e geralmente praticada por laparoscopia: 80% para BRCA1 e 50% para BRCA2, de acordo com um estudo realizado pelo Institut Curie.
No entanto, essa cirurgia tem um grande problema: causa infertilidade e menopausa precoce e brutal.
- É um gesto que recomendamos apenas quando o desejo de ter filhos foi realizado e, mesmo assim, continua sendo difícil para uma mulher renunciar à possibilidade de ser mãe - comentou Stoppa-Lyonnet.
Retirada das mamas não é consenso
Se essa operação é geralmente objeto de um consenso internacional, a situação não é a mesma para a cirurgia de remoção das mamas à qual a atriz se submeteu em maio de 2013. Essa cirurgia radical e preventiva é muito mais praticada nos Estados Unidos e nos países anglo-saxões do que em outros lugares do mundo, ressaltou Dominique.
Ao contrário do câncer de ovário, o acompanhamento atento por mamografias e ecografias, num ritmo de três exames por ano, permite a detecção precoce de tumores de mama nestas mulheres.
- Na França, temos o dever de apresentar a opção da cirurgia mamária, mas também oferecer a alternativa de vigilância através de mamografia/ultra-som - explica Stoppa-Lyonnet.
Resultado: a grande maioria das francesas portadoras dessas mutações estão optando pelo acompanhamento.
Estima-se que uma entre 400 a 500 mulheres carregue uma mutação do gene BRCA1 ou BRCA2, o que resulta em um risco cumulativo de câncer da mama aos 70 anos de 70% para a primeira anomalia e de 50% de falha para a segunda.
*AFP