Em 1974, Bob Dylan dizia: "May you stay forever young" (Que você se mantenha eternamente jovem). Foi uma das lições que Sergio Nicola Brum aprendeu e faz ecoar todos os sábados nas caixas de som que liga ao lado da pista de skate do Parque Marinha do Brasil, em Porto Alegre. Prestes a completar 60 anos, Marreta, como é conhecido, é destaque entre os skatistas da Capital. Há 40 anos, ele roda a cidade em cima da sua prancha sobre rodas. Viu o Marinha nascer e só não participou do lançamento da pista do parque porque, na noite que antecedeu o evento, inaugurou clandestinamente o lugar com alguns amigos. Caiu, bateu a cabeça e passou o dia seguinte no hospital em observação.
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Ele divide sua semana entre o escritório em que atua como projetista de circuitos eletrônicos e as pistas espalhadas pela cidade. E sua rotina inclui dores que poucos aguentariam. Em 2007, praticava downhill e descia a mais de 130km/h uma ladeira em Teutônia, no interior do Estado. Quase na linha de chegada, deu de cara com um carro estacionado. Não teve como evitar a colisão. Quebrou braços, pernas, costelas e uma vértebra. O médico disse que ele tinha 5% de chances de, um dia, voltar a se manter em pé sozinho novamente:
- Depois de meses em casa, sob os cuidados da minha mulher, pedi aos filhos que me colocassem em cima do skate. Chamei o exercício de skaterapia e aqui estou, de pé de novo. O corpo não funciona mais como antes, é verdade, as mãos estão mais enrijecidas, mas continuo ativo para que as dificuldades físicas não sejam um empecilho.
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Viver com dor não é normal na terceira idade, embora muitas pessoas associem à idade ao declínio da saúde. As deformidades ósseas são consideradas naturais pelos médicos com o passar dos anos, uma pessoa pode passar por isso, em função da idade, sem, necessariamente sofrer com dores. O que Marreta vive é o extremo e, ainda assim, não é motivo suficiente para se encarar como idoso.
- Descobri o esporte tarde, só aos 19 anos. Foi assim, então, que entrando na idade adulta me descobri criança de novo e encontrei os melhores amigos da minha vida. A fórmula da felicidade e da juventude está na emoção de continuar sentindo a vida como uma criança.
Não há um dia sequer em que não pegue seu skate, suas muletas e percorra alguns quilômetros pela cidade. Nas pistas, ninguém o chama de "tio" ou qualquer desses substantivos. Os mais jovens o tratam como Marreta. Todos são iguais. A idade não determina que alguém tenha privilégios ou espaços determinados.
Quem imagina que Marreta, por ser skatista, seja um "idoso moderninho" se espanta por ele manter a rotina e os costumes bem comuns. Casado há 39 anos, fez até curso de noivos na igreja:
- Sou um "sexyagenário". O skate me mantém jovem e eu me mantenho bem para aproveitar a vida com a Nina Rosa, uma flor que me conquistou para a vida toda.
Em vídeo, confira o que Marreta e outras três pessoas pensam sobre chegar à terceira idade: