Estudioso do tema, Roman Krznaric acredita que a empatia pode criar uma grande mudança social. Lançou recentemente o livro Empathy - A Handbook for Revolution, com lançamento previsto para junho no Brasil. Em entrevista por e-mail, o australiano respondeu por que precisamos disso.
ZH: Em palestras e no seu livro, você diz que a empatia é um antídoto. Por que precisamos disso?
Roman Krznaric: Acho que vivemos em um mundo hiperindividualista, onde o capitalismo consumidor nos convenceu de que a questão mais importante para a boa vida é: "O que tem nele para mim?". Isso simplesmente alimenta o velho mito de que os seres humanos são essencialmente egoístas. Mas a neurociência moderna nos diz o contrário. Na verdade, somos apenas criaturas empáticas, com tendência à cooperação social e ajuda mútua. Se 98% de nós têm a capacidade de empatia - para entrar na pele dos outros e olhar para o mundo através de seus olhos - em nossos cérebros, ela é um antídoto para a nossa cultura excessivamente individualista. Ele pode nos fazer mais equilibrados e preocupados com as pessoas que vivem às margens sociais.
ZH: Que tipo de revolução você acredita que a empatia pode criar?
RK: Se você olhar a história, a empatia tem sido essencial para a criação de mudanças sociais. No século 18, os ativistas contra a escravidão na Europa pegaram pessoas da população para tentar imaginar o que poderia ser um escravo que trabalhava até a morte em uma plantação de açúcar no Caribe. Em outras palavras, eles tentaram fazer as pessoas terem empatia com os escravos. Isso levou a um movimento social de massa e à abolição da escravatura na região. Precisamos reconhecer que a empatia pode criar uma revolução - não daquelas à moda antiga, baseadas em novas leis ou instituições, mas algo mais fundamental: a revolução das relações humanas. Necessitamos hoje, com urgência. Basta pensar o quanto estamos entrando na pele das gerações futuras, pela queima de combustíveis fósseis e destruindo nosso único lar planetário. Precisamos dar o salto imaginativo empático e nos colocar nos sapatos das gerações futuras como forma de nos motivar a agir sobre os seus comportamentos.
ZH: Você usa a expressão "outrospecção" em oposição a introspecção. O que quer dizer?
RK: Eu vejo o século 20 como a idade de introspecção, em que todos, de Freud a Oprah Winfrey, nos disseram que a melhor maneira de entender a nós mesmos era de olhar para dentro, auto praticar a autorreflexão, olhar para as nossas próprias almas. Não há nada de errado com isso. Na verdade, a introspecção é essencial para a autocompreensão. Mas precisa ser equilibrado com o que chamo de "outrospecção", a ideia de descobrir quem você é e como é viver fora de si mesmo, para descobrir a vida de outras pessoas e culturas.
Roman é um dos criadores do Museu da Empatia. Será uma mostra itinerante internacional, com exposições incomuns, como uma Biblioteca Humana, onde, em vez de pegar um livro, é possível tomar emprestada uma pessoa para uma conversa. A ideia é poder falar com um adolescente muçulmano ou um veterano de guerra ou um banqueiro de investimento infeliz, por exemplo. Está sendo lançado em um local secreto em Londres e deve abrir no meio de 2015. Também existirá em versão online. Mais informações: empathymuseum.com