Maria Odete da Costa tem planos para antes de terminar a faculdade. Começou a estudar Psicologia e pretende se formar em 2020, quando estará com 66 anos. Antes disso, vai encerrar as atividades da loja que mantém no centro de São Leopoldo, no Vale do Sinos, para poder dedicar o tempo livre ao estágio obrigatório e ao trabalho de conclusão. Os conhecidos dizem que esse tipo de ousadia só pode ser feito por gente jovem, de 20 e poucos anos. Ela não liga. Alias, está acostumada aos julgamentos e nunca se importou com eles. Casou aos 19 com um homem 30 anos mais velho. Tiveram dois filhos e viveram uma vida feliz. Viúva, ela teve dois relacionamentos longos. Tanto o primeiro quanto o segundo namorado nasceram algumas décadas depois dela.
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Longas mechas vermelhas emolduram o rosto de Odete. Pequena, magra, salto alto, maquiagem nos olhos, ela chama a atenção por onde passa. E gosta disso. Não sente vergonha de afirmar que é bonita e de dizer a um homem o quanto ele é atraente para ela. Netos e filhos se orgulham das atitudes e da forma como a comerciante encara a vida. O namorado que tentava sabotar a dedicação dela aos estudos viu o romance chegar ao fim. A determinação da senhora de 61 anos é muito mais forte.
- Corro todos os dias na rua. Isso me dá uma enorme sensação de liberdade. Quando chegamos à menopausa, nosso corpo passa por mudanças muito drásticas. Temos tendência a engordar, por exemplo. Eu não queria que meu corpo mudasse, não queria me tornar uma senhora clássica, cheinha, com cabelos curtos. O avanço da idade faz com que a gente se boicote, ache que não temos direito à certas coisas, como estudar, ter uma vida sexual - conta.
Esse é um tema que indigna o geriatra Newton Terra. É comum ver familiares encararem os idosos como pessoas que não sentem desejo e não têm vontade de fazer sexo:
- Os filhos, principalmente, olham os mais velhos como pessoas assexuadas, sem o direito à carícias e carinhos.
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Odete complementa:
- Acontece que as pessoas que chegam nessa idade se deixam levar por esses julgamentos. As mulheres param de usar o perfume favorito, não usam mais vestidos ou batom, cortam o cabelo bem curto por praticidade. Como consequência, abandonam a própria sexualidade. Eu não fico pensando em todos os anos que vivi. Se estou apaixonada, vivendo um novo relacionamento, aproveito de forma plena.
Mais experiência, mais desejo
A pesquisa sobre sexualidade na terceira idade produzida pela USP evidenciou algo que já é senso comum: homens com mais de 60 anos são mais sexualmente ativos do que as mulheres. As senhoras são condenadas ao rótulo de seres assexuados. Se aparecem com um namorado são julgadas como promíscuas, ouvem coisas como "o que essa velha quer arranjando homem?". Odete ouviu isso, principalmente sobre o último namorado, 27 anos mais moço.
- É um crime o que fazem com a sexualidade das pessoas que passam dos 60 anos. Sexo ainda parece um palavrão. Eles são muito carentes porque, geralmente, evitamos carinhos com os mais velhos por vergonha. Muitas clínicas separam os grupos por sexo. Em presídios, o condenado pode receber visitas íntimas, mas um homem mal pode pegar na mão de uma mulher quando participam de uma mesma associação, por exemplo - condena Newton Terra.
O geriatra explica que, sim, as mulheres podem ter a libido alterada. A menopausa é a principal culpada por essas alterações no corpo. E indica que, em vez de se fechar e acatar as mudanças como algo que não tem volta, as mulheres devem cuidar da alimentação e, principalmente, se exercitar. Essa fórmula mais do que conhecida é a responsável por manter íntegra a saúde sexual, física e cognitiva. A fase, para o médico, pode indicar um momento muito melhor para a intimidade. A mulher não tem mais de se preocupar com ciclos menstruais e período fértil.
- A gente pode enfrentar alguns probleminhas, mas há tratamentos para que possamos ter uma vida sexual como quando éramos mais jovens. Dos meus 20 anos até hoje não houve diferença. Tudo é uma questão de uma sedução, manter acesa as fantasias _ sustenta Odete.
Os novos sessentões estão revolucionando a imagem da terceira idade. Já não são mais os vovozinhos que podem ser encontrados em casa a qualquer hora do dia, qualquer dia da semana. Os especialistas que há anos vêm tentando colocar a qualidade de vida na rotina de quem, agora, é considerado idoso, parece que conseguiram atingir esse objetivo. Os sessentões não estão dispostos, seja por necessidade seja por opção, a parar. Os sessenta têm um novo significado: eles querem permanecer ativos e fortes por mais tempo.
Em vídeo, confira o que Odete e outras três pessoas pensam sobre chegar à terceira idade: