Jane E. Brody
Apesar de vários acidentes já noticiados, como a morte no ano passado de Caleb Moore, piloto de veículo de neve, então com apenas 25 anos, a popularidade dos esportes radicais aumentou nos últimos anos.
Participantes dos X Games e de outros eventos esportivos costumam executar regularmente proezas de tirar o fôlego em esquis e snowboards, skates e mountain bikes, todas repetidas inúmeras vezes no YouTube e na televisão para um público crescente que corre atrás da emoção.
O problema é que muitos jovens ávidos por adrenalina estão tentando copiar os ídolos dos esportes radicais, correndo um grande risco. Cheios de confiança, muitos participantes não têm a habilidade e o treinamento para realizar tais proezas. E muitas vezes não utilizam o equipamento de segurança que poderia reduzir o risco de ferimentos sérios. Amadores sem árbitros, técnicos nem enfermeiros por perto podem terminar com ossos quebrados, pancadas severas, vasos sanguíneos rompidos ou deficiência pelo resto da vida - se conseguirem sobreviver.
Mais de quatro milhões de lesões atribuídas a esportes radicais ocorreram de 2000 a 2011 nos Estados Unidos, de acordo com dados coletados pelo Sistema de Vigilância Eletrônica Nacional de Ferimentos. No primeiro estudo sobre a natureza de tais traumatismos, a cirurgiã ortopédica da Faculdade de Medicina da Universidade do Michigan Ocidental, Vani J. Sabesan, em conjunto com outros colegas, examinou a incidência de lesões na cabeça e pescoço, as mais graves entre as que não resultam em morte.
Na recente reunião anual da Associação Norte-Americana de Cirurgiões Ortopédicos, Sabesan informou que mais de 40 mil ferimentos do gênero acontecem todos os anos entre os praticantes de sete esportes radicais, como skate, snowboarding, mountain biking e motocross. Segundo sua análise, 83% das lesões eram na cabeça e 175 no pescoço, com 2,5% delas descritas como graves, resultando em possível morte ou deficiência pelo resto da vida.
- O nível de competição e lesões que estamos vendo não para de aumentar. Muitos se recuperam, mas não necessariamente sem consequências a longo prazo - afirmou a cirurgiã ortopédica.
Sabesan observou que os ferimentos na cabeça e no pescoço causavam preocupação particular por causa das consequências a curto e longo prazos: pancadas, fraturas e lesões cerebrais traumáticas, que podem resultar em depressão crônica, dores de cabeça, paralisia e até morte.
Skate entre os mais perigosos
A prática do skate origina a maioria dos ferimentos na cabeça e pescoço nos EUA: mais de 129 mil foram informados durante os 12 anos do estudo.
O snowboarding produziu mais de 97 mil casos similares, enquanto os esquiadores registraram 83 mil, e os praticantes de motocross, mais de 78 mil.
Segundo Sabesan, mais pessoas praticam esportes radicais todos os anos e as idades dos participantes são cada vez menores.
- Os jovens veem o snowboarder Shaun White levar o esporte a um novo nível, e parte da garotada quer copiar suas proezas. Na verdade, a cultura diz que é bom tentar fazer isso - afirma a pesquisadora.
Sabesan destaca que o skate é particularmente perigoso porque os capacetes, agora uma rotina entre os esquiadores, não são obrigatórios. Ela alerta que quando se cai de cabeça no concreto ou asfalto, o dano é pior do que na neve.
O estudo constatou que o risco de sofrer fratura de crânio praticando skate é 54 vezes maior do que no snowboard.
Equipamentos de segurança
A primeira recomendação de Sabesan para reduzir o risco de lesão séria é usar o equipamento de segurança adequado.
- Uma coisa simples como usar capacete pode ser excelente na prevenção de uma deficiência para a vida toda - destaca Sabesan.
Sua própria experiência serve de exemplo. Enquanto treinava para triatlo, ela foi arremessada sobre o guidom da bicicleta e caiu de cabeça. Um capacete a protegeu.
A ocorrência de ferimentos graves aumenta quando o índice de participação em esportes radicais cresce. Sabesan acrescenta que ainda não há estudos adequados dos riscos associados.
- Não temos parâmetro. Ninguém monitora lesões ocorridas nos X Games. Existem estudos mínimos sobre deslocamentos do quadril e do joelho, ossos quebrados ou efeitos a longo prazo à cabeça e outros ferimentos - diz a cirurgiã ortopédica.
Para Sabesan, as descobertas apontam para a necessidade de supervisão capacitada e assistência médica nos eventos de esportes radicais, bem como o treinamento apropriado de participantes e a obrigação de uso do equipamento de proteção adequados.
Recado da especialista para os pais
Obrigue a criança que anda de skate a usar capacete, cotoveleira e munhequeira. O praticante de snowboard, cujos pés ficam presos à prancha, deve usar munhequeira para proteger o punho caso caia com as mãos estendidas. E, é claro, quem estiver de bicicleta, esqui ou prancha, deve usar o capacete projetado para a atividade.