Desde que comecei a escrever em Zero Hora, ouço histórias sensacionais sobre crianças em todos os lugares. Postos de gasolina, aniversários, em bares - até em bares! - e pelo e-mail que aparece ali no alto chegam histórias tão legais que eu sinto vontade de recontar pra vocês. Olhem estas:
Helena
A Helena é a filha do Marcos. Ela é morena e tem olhos enormes. Fazer a Helena dormir não é fácil (nenhuma criança dorme fácil depois dos dois anos, a não ser que você esteja atrasado e PRECISE que ela não durma. Aí ela dorme fácil). A Helena, sempre quando vai dormir, questiona o pai se todas as outras pessoas já dormiram também. E quando eu digo isso quero dizer TODAS as pessoas que a Helena sabe que existem. "A vovó?", ela pergunta. "Já foi dormir", responde o pai. "A profe?". "Sim, a profe também". E assim por diante, passando pela tia, os amiguinhos da escola e todos os personagens dos desenhos do Discovery Kids. Algumas vezes o Marcos dorme antes da Helena.
Sofia
A Sofia, sete anos, foi passar as férias na casa do amiguinho Arthur, no Rio de Janeiro. Praia todo dia, passeios de bicicleta, e um dia a Sofia notou que o garoto nunca assistia à televisão. O pai dela explicou: "Eles nem têm televisão em casa. Os pais dele não querem que ele fique vendo desenho o dia todo". E, realmente, o garoto era mais calmo que as outras crianças e passava o dia brincando com Lego, pipa e bicicleta. Um dia, o Arthur perguntou pra Sofia que tipo de castigo ela levava se não se comportava. A Sofia respondeu: "Fico uma semana sem televisão". Arthur recebeu a impactante informação, encheu os olhos de lágrimas e perguntou para o pais: "Então eu tô sempre de castigo?".
E, pra terminar, uma história da minha filha
Cometi o erro de confidenciar pra minha filha que ela tem um comportamento muito parecido com o meu, quando eu era criança. Quando tinha a idade da Anita (nove anos) também achava as pessoas que pensavam diferente as mais legais. Também questionava as contradições entre a aula de ciências e a de religião. E também não respeitava muito - e hoje me esforço pra respeitar, porque isso é o que os adultos fazem - as convenções sociais.
Um dia desses, uma amiga estava lá em casa e a Anita chegou da escola. Minha amiga perguntou: "Como foi o dia, Anita? ". E minha filha desbocada respondeu: "Ah, isso não vai mudar nada na tua vida". Clima chato, reprimenda e uma semana sem jogos no computador. Tentei ser o mais enfático possível pra explicar como aquilo era inadmissível. A Anita olhou pra mim e disse:
- Pai, tu já notou que quando tu briga comigo, na verdade tu tá brigando contigo mesmo, quando tu era pequeno?
Parabéns, Piangers. Você tem a reencarnação de Freud em casa.