*Comunicador da Rádio Atlântida, Piangers tem orgulho de ser paizão
Aurora (vejam a coincidência: Ticiano também fala, ao lado, da filha de mesmo nome) vai desenvolvendo uma confiança, daquelas confianças irritantes de crianças, em que finge nem ligar pro meu olhar de ternura, pros meus beijos na cabeça, pros sopros que dou no pescoço dela. Cada dia, por saber que é amada e protegida, fica mais difícil surpreendê-la com um carinho e, dessa forma, descolar um sorrisinho. Aquelas risadas altas estão cada vez mais caras, passando da cotação "mero barulhinho com a boca" para "arremesso de criança o mais alto possível". O preço da risada passa por um período de inflação descontrolada.
Eu tentei uns beijos na barriga, umas cosquinhas embaixo do braço, e meu pagamento era um sorriso cada vez mais amarelo. Então descobri que ela adora correr pelada ao sair do banho. É uma descoberta maravilhosa, ela dá gargalhadas altíssimas quando eu grito: "Vou pegar". A vizinha do 1.104, que não tem filhos, reclama muito na reunião de condomínio das "risadas altíssimas perto das oito da noite".
Só que, obviamente, o preço da risada foi subindo, e o tempo sem fralda correndo pela casa teve de ir aumentando pra mantermos um nível básico de gargalhada. Um nível aceitável de RIB (Risada Interna Bruta). E a Aurora, eventualmente, começou a fazer xixi no meio da sala depois de correr e gargalhar por dezenas de minutos. E aí eu fico brabo e ponho fralda nela, sob protestos e choros. Os choros anulam boa parte do RIB aqui de casa (jamais teremos um RIB de país desenvolvido).
Mas agora chegamos a um momento em que sei que ela vai fazer xixi no meio da sala, ela sabe que vai fazer xixi no meio da sala, mas a gente finge um pro outro que não. Eu pra ouvir risadas deliciosas, ela porque deve ser muito agradável fazer xixi no chão da sala (não pretendo experimentar). Minha mulher quer acabar com a farra, mas somos eu e Aurora contra ela. Limpar xixi no chão da sala é deplorável. Mas mais deplorável ainda é uma casa sem risadas de criança.
Se você tem alguma história boa para contar sobre seus filhos, mande pra mim (piangers@atlantida.com.br). Vai ser um prazer compartilhar com outros pais.