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Com mais de oito décadas de vida, a aposentada Lory Rocha Coimbra tem mais motivos para sorrir do que para se queixar. Apesar das limitações da idade, ela é daquelas que não lamentam a chegada dos fios brancos. Pelo contrário, tem orgulho e entende que ser jovem ou velho é uma questão de espírito. E é a prova de que a juventude de um idoso não está, necessariamente, associada às atividades físicas ou laborais que pratica, mas sim em manter a mente ativa. Nascida e criada em Porto Alegre, Lory define-se como uma mulher do asfalto.
- Sempre fui trabalhadora e tive o meu primeiro emprego aos 14 anos, quando me tornei professora - recorda.
Dali em diante, graduou-se em Letras e lecionou durante anos, mas optou por uma segunda carreira como dentista para melhorar a renda familiar. Não era para menos, já que criou cinco filhos.
O esforço foi recompensado. Chegar aos 85 anos nas condições dela, é fator de orgulho para a família. Mora com uma filha de 60 anos, que faz questão de cuidá-la da mesma forma ativa e espontânea como criou sua prole.
- Há dois anos eu morava sozinha e era completamente independente. Mas, agora, minha filha não deixa eu fazer nada - diverte-se, reconhecendo com carinho o gesto de retribuição.
Não fosse um acidente doméstico que a deixou com dificuldade de locomoção, sua saúde estaria em perfeitas condições. O atual estado, segundo ela, é resultado dos cuidados que teve durante toda a vida:
- Me alimento muito bem. Gordura e carne vermelha são raridades na minha dieta. Também sempre fiz caminhadas. Mas minha distração maior é o contato humano. Gosto de ouvir as pessoas, e tive no calor humano o meu maior combustível para viver feliz.
De cada situação é preciso tirar um aprendizado
Em outros tempos, Lory gostava de ir ao cinema e ler. Atualmente, trocou o hábito por ver filmes na TV, "já que a imagem é quase tão boa quanto à da telona", e acompanha notícias no tablet, onde pode ampliar as letras e ler com mais clareza. A tecnologia também é uma aliada que a aproxima dos bisnetos, quando eles tentam lhe fazer aprender seus jogos virtuais.
Lory considera que sempre foi uma mulher à frente do seu tempo. Enquanto a maioria das colegas terminou o ginásio e foi para casa bordar seus enxovais, ela optou pelos estudos e pelo trabalho. Com isso, aprendeu que, por mais problemas que a vida apresente, é preciso saber levá-la com tranquilidade. Foi assim que superou as quedas, principal sinal da chegada da idade.
- Tenho fé que podemos superar tudo, e Deus fala pelos acontecimentos. Por isso, de cada situação, é preciso saber tirar um aprendizado.
10 reflexões sobre a velhice
CUIDADOR OU CLÍNICA
> Internar os pais em uma clínica costuma trazer culpa para os filhos. Mas há situações em que a internação é um ato de carinho e cuidado. Nestes casos, é importante manter visitas constantes e se possível até levar os pais para um almoço ou passeios fora da clínica.
APOSENTADORIA
> Planejar a aposentadoria não é apenas pensar na questão financeira, mas principalmente no aspecto emocional. Consulte a família, fale com amigos, revisite sonhos antigos, permita-se gastar tempo planejando o que fará no futuro.
MEMÓRIA E ESQUECIMENTO
> Quando os filhos se dão conta de que os pais estão ficando esquecidos, é importante mostrar a eles e, aos poucos, tomar providências. Fazer vistas grossas pode postergar a solução de um problema que pode ser remediado.
MOMENTOS FINAIS
> As pessoas estão vivendo mais, mas muitos passam os últimos anos em condições degradantes e desgastantes. Por isso, ouça a vontade do idosos em relação a tratamentos e a própria morte. Avalie, com os médicos, o melhor tratamento, buscando conforto e qualidade de vida para o idoso e não apenas o prolongamento da vida.
BUSCAR AJUDA
> Em vez de tomar remédio para qualquer problema, tente compreender a origem do que lhe incomoda e procure ajuda. Se for preciso, faça terapia, invista na sua saúde mental e procure viver com qualidade não apenas no aspecto físico.
ATIVIDADES SOCIAIS
> Quando se realiza atividades socioculturais ou esportivas, é importante ter companhia. O vínculo afetivo ajuda a estabelecer conexões e manter a atenção em alta. Evitar o isolamento é bom para manter a mente ativa e a memória boa.
FALAR SOBRE A MORTE
> Por mais que se tente evitar, morrer é uma certeza desde o dia em que nascemos. Por isso, é importante conversar sobre medos, anseios, expectativas gerados pela morte. Isso facilitará o momento em que for necessário tomar decisões.
NICHO VAZIO x CHEIO
> Os filhos estão saindo de casa mais tarde, o que geralmente coincide com a aposentadoria dos pais. Também tem sido comum o filho retornar para a família adulto, prolongando a dependência. Para evitar conflitos, o ideal é combinar sobre o retorno. Por quanto tempo, as responsabilidades de cada um em casa, as compras, os gastos e outras questões.
CUIDADO DOS NETOS
> É importante colocar limites para que uma tarefa prazerosa como cuidar dos netos não se torne uma obrigação desgastante. Diálogo pode ajudar a deixar claro quando o cuidado do neto atrapalha a rotina dos avós e vice-versa.
LIMITES E AUTONOMIA
> Por mais que os filhos queiram evitar o sofrimento dos pais, é preciso deixá-los correr alguns riscos. Por excesso de precaução, os limites impostos ao idoso pode levá-lo à depressão e ao isolamento. O ideal é o equilíbrio entre cuidado e autonomia