Preferem ir ao baile do que ao médico. Não dependem de andador para ir e vir do mercado. Comunicam-se com os filhos, os netos e os amigos pelas redes sociais. Não se vitimizam com as marcas do tempo. Em vez disso, aproveitam a força que têm para concretizar realizações pessoais, agora com maior disponibilidade de horários, mais sabedoria e melhores condições financeiras.
São os gerontolescentes, pessoas que já passaram dos 60 e optaram por investir em qualidade de vida, ignorando as limitações naturais dessa idade.
O termo foi cunhado pelo médico Alexandre Kalache, um dos geriatras que mais estudam o envelhecimento no Brasil. Kalache explica que a velhice não acontece de repente: ela representa uma soma de fatores que marcam o curso da vida ou o resultado de tudo o que já se viveu. Não há segredo para envelhecer bem, afirma, apenas algumas dicas, das quais ele destaca três: cuidar dos hábitos de saúde, organizar as finanças e manter os laços de amizade.
- É na velhice que se tem mais perdas. É nessa época que a pessoa precisa se valer de amigos, é a eles que você vai recorrer quando estiver sozinho. Essa rede social evita que você vá se deprimir - aconselha o geriatra.
Projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam para um crescimento populacional dos idosos no país de mais de 3% ao ano, quase três vezes acima do aumento da população total, de aproximadamente 1,1%, observado entre 2000 e 2010. Em 2050, espera-se que esse grupo corresponda a 30% da população brasileira, contra 11% atualmente.
"Gerontolescência
significa estar pelo
mundo, ativo, criando
uma nova construção
que é envelhecer."
Geriatra Alexandre Kalache, explicando o termo criado por ele
Confira aqui a entrevista completa com Kalache
O lado bom
O barco já serviu para festas de família, momentos românticos, viagens de desbravamento e muitas regatas. Mais do que perfeito para aventuras, o veleiro Aquário é onde a vida ganha sentido para Henrique Ilha, 83 anos. Acompanhado da mulher, Valmi Horn, 79 anos, ele repete o ritual todos os fins de semana: embarca no Aquário, que fica ancorado na marina do Clube Veleiros do Sul, em Porto Alegre, organiza os apetrechos e inicia uma reveladora viagem pelas águas do Guaíba. Em cada trecho da paisagem que conhece como a palma da mão, encanta-se como se fosse a primeira vez.
-Tem que curtir o durante. Se me perguntam quanto tempo levo para chegar, digo que o maior tempo possível - conta o aposentado, sem nenhuma pressa.
Apaixonado pela vela desde a infância, Ilha conduz a embarcação com a desenvoltura de um garoto, um trabalho facilitado pelo bom humor e a agilidade da companheira. No meio do passeio, a serelepe Valmi providencia comes e bebes e ocupa-se em apresentar as histórias da família. Haja memória para guardar tantos detalhes sobre os seis filhos, 13 netos e quatro bisnetos, a maioria velejadores.
Juntos, os Ilha participam das regatas de passeio, onde a diversão é a marca principal. Parece ser essa a fórmula da vitalidade do casal. Otimista, Ilha explica que o segredo é deixar de lado as coisas negativas e valorizar o que é bom na vida. Diante da alegria e disposição de Valmi, nota-se que o investimento deu certo. Sem perder o humor, ele alfineta, carinhosamente, a parceira que o acompanha há 58 anos:
- Ainda estamos nos testando.
Aventura vertical
Marta Merola ainda não se tornou oficialmente sexagenária, mas há tempos se previne para quando a "melhor" idade chegar. Praticante de escalada e montanhismo há 12 anos, a dentista de 59 anos corre o mundo atrás de paredes de rochas em que possa se apoiar para ver as coisas de uma forma diferente.
- É como uma academia a céu aberto - afirma, ansiosa pela próxima escalada.
Logo depois de iniciar a prática em academias de Porto Alegre e ganhar segurança, Marta arriscou as primeiras subidas na Colônia Japonesa, em Ivoti, a 55 quilômetros da Capital. Aos poucos, foi alçando subidas maiores, por montanhas na Grécia, Tailândia, Espanha, Croácia. Em cada lugar, uma beleza e uma aventura diferentes foram encorpando o currículo de aventuras.
Quando encontra conhecidos da mesma idade, Marta surpreende-se com o estado físico e mental de quem não pratica atividade física. Na contramão da maioria, ela busca no contato com o grupo da escalada a jovialidade que os anos levaram:
- A maioria dos colegas é mais jovem, e eu me divirto. Morro de rir com a galera.
Planejando uma escalada na França, em setembro, Marta explica que todas as suas viagens buscam conciliar o passeio com a prática do esporte, sendo que "na maioria das vezes, é mais escalada do que passeio", admite.
Braçadas inspiradoras
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Não basta estar entre os amigos, tem que estar entre os melhores do mundo. Essa é a máxima de Anton Karl Biedermann, nadador de 88 anos que faz da piscina sua principal aliada contra os efeitos do tempo. Ele não lembra quando começou a nadar. Só sabe que não pretende parar tão cedo. Com treinos diários na piscina do condomínio ou do clube, e três vezes por semana na academia, o desempenho do empresário aposentado mostra que ele tem razões de sobra para prosseguir: era o primeiro no ranking de março da Federação Internacional de Natação acima de 85 anos.
- Só não ganho do Michael Phelps porque ele é muito mais jovem do que eu - diverte-se o atual presidente dos Conselhos de Administração da Federasul e da Câmara Comercial. Mas o principal combustível para a vitalidade de Bierdermann vem dos resultados gerados pelo seu exemplo:
- O que mais me alegra é ouvir alguém falando que servi de inspiração.