Lucas Moretti tinha cinco anos de idade e uma coleção de bonés que cobriam uma prateleira do quarto. Mas na escola onde estudava, usar o acessório dentro da sala de aula era proibido. Um dia, de tanto a professora pedir para que tirasse o boné, Lucas se irritou, jogou o boné no chão e começou a gritar. No mesmo dia, a mãe foi chamada para conversar com o conselho pedagógico da escola.
- Ele nunca foi de fazer birra quando era mais novo, mas, de repente, entrou naquela fase de dizer não para tudo - relata Liana Casanocchia, mãe de Lucas, hoje um pré-adolescente de 11 anos que sempre tira o boné na sala da aula.
Casos como esse, apesar de considerados corriqueiros por especialistas, precisam ser acompanhados com atenção pelos pais e pela escola. A orientação é não deixar que um simples resmungo evolua para algo pior e que família e corpo docente atuem sempre em conjunto. Daniela Dal-Bó Noschang, psicóloga clínica e consultora em escola de Educação Infantil, aponta pelo menos três fases desse comportamento.
- Quando são bem pequenos, fazem birra e choram. Depois, quando aprendem a se comunicar melhor, entram em uma fase de confronto um pouco mais direto. Lá pelo Ensino Fundamental, o enfrentamento já é mais verbal e, uma vez que compreendem as regras sociais, passam a usar mais ironia e deboche - explica.
Pedro Dalbosco de Azevedo, dois anos, está na fase de ser do contra. Segundo sua mãe, Márcia Azevedo, o guri não gosta de receber ordens, e negociar virou regra em casa. Ela afirma que na escola o comportamento é melhor, mas, às vezes, a birra é inevitável.
- Uma vez a professora disse que ele se recusou a fazer uma atividade, da mesma forma que costuma fazer em casa - diz.
A diretora da escola, Sandra Wiebbelling, diz que o trabalho em parceria com os pais é fundamental para compreender o que está por trás de comportamentos assim - e que uma intervenção maior só se faz necessária quando a birra se torna frequente:
- Nos raros casos em que notamos que a criança sistematicamente se recusa a fazer atividades ou a respeitar certos limites, acionamos a psicóloga da escola e nos reunimos com os pais para saber o que mudou na rotina familiar.
A psicóloga educacional Nadine Cabral reforça a necessidade de saber impor limites com o cuidado de não prejudicar o desenvolvimento escolar - especialmente o lado criativo. E aponta que esse tipo de trabalho gera frutos não apenas dentro da escola, mas fora dela também.
As fases
- As birras começam a aparecer por volta dos dois anos, quando as crianças estão se diferenciando dos pais e procuram uma forma de se individualizar. É preciso diálogo e pulso firme.
- Por volta dos quatro anos, começam os conflitos com colegas e disputas por brinquedos. A intervenção é necessária na hora, e não depois "porque o universo da criança é imediato", lembra a psicóloga Nadine Cabral.
- Nos anos iniciais do colégio, as crianças tendem a ficar mais impulsivas e o confronto verbal pode passar para o físico. Nesses casos, recomenda-se a observação constante, tanto de professores quanto dos pais, até para saber como intervir melhor.