Responsável por dar vida ao terapeuta Theo Cecatto, o ator Zécarlos Machado conversou com o Vida a respeito do seriado e, claro, de terapia. Segundo ele, o protagonista da série é um alterego do diretor, Selton Mello. Abaixo, os principais trechos da conversa com Machado, por telefone:
Vida - Como foi o laboratório para criar esse personagem?
Zécarlos Machado - O trabalho exigiu bastante concentração, todo mundo ficou muito empenhado. Trabalhar com esse material é nobre. A gente teve pouco tempo para preparação. Ele (Selton Mello, diretor da série) queria chamar a atenção para a qualidade de vida que se pode obter com a terapia. O personagem está presente ainda em mim. O Theo é um trabalho coletivo, mas o Selton é o alterego do Theo. Ele teve muita cumplicidade com a equipe e nós tivemos um entendimento da busca de uma linguagem. A minha mulher é terapeuta, então já conhecia um pouco essa realidade.
Vida - Em algum aspecto, você se identificou com o Theo?
Machado - Claro que sim, em vários momentos. Tem várias questões com filhos, com a esposa, culpas. Quem não passou por questionamentos? Ela é workholic, um bom terapeuta. Tem ansiedade e também busca novidades, como o ator, que é um curioso nato. O Theo também é um curioso. Aí ele acaba fazendo projeções. Tem uma questão ética, pois ele é um cuidador. Ouvir é o papel dele, e é algo que gosto muito de fazer. Observar as janelas do sofrimento foi um exercício para mim.
Vida - Fazer o filme foi uma espécie de terapia para você?
Machado - Me analisei e vi que não vou ter jeito (risos). Tenho a impressão que aprendo muita coisa. Quando tocamos nessas camadas da emoção tem muita coisa que está presente no nosso dia a dia. Fazer o Theo me ajudou a me perceber neste mundo. As camadas humanas são muitos ricas. Um terapeuta tem que ter esse olhar de aprofundar e ver além das camadas. Para fazer esse mergulho em cada uma dessas personagens teve um processo de criação muito estimulante.
Vida - Você acha que muito terapeutas pensam como Theo, que seus pacientes são desprezíveis?
Machado - É forte falar isso. Creio que, de maneira geral, não. Temos alguns que pensam, mas não todos. Em princípio, a profissão tem um sentido nobre. O que acho maravilhoso no Theo é que ele somatiza tudo isso com questões de humanidade, de compreensão. Ele está em um momento de muita fragilidade, de pressão. Nesses casos, uma atitude de descontrole é considerável.
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